Mulheres relatam precisar moldar voz e comportamento para serem aceitas no trabalho

Levantamento do Estúdio Clarice revela distorção entre a percepção masculina sobre igualdade de oportunidades e a experiência das mulheres no ambiente profissional

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68% dos homens afirmam existir igualdade de oportunidades independente do gênero. Entre as mulheres, esse número cai para 48%. Foto: Envato

Um novo levantamento do Estúdio Clarice mostra que, enquanto a maioria dos homens acredita que homens e mulheres partem das mesmas condições ao longo da vida profissional, as mulheres seguem adaptando sua voz, jeito e personalidade para caber nesses espaços. Com informações da coluna da Mônica Bergamo, em A Folha de S. Paulo.

A pesquisa, realizada entre os dias 7 e 14 de novembro com 2 mil pessoas em todo o país, mostra que 68% dos homens afirmam existir igualdade de oportunidades independente do gênero. Entre as mulheres, esse número cai para 48%.

A diferença não está apenas no acesso a cargos ou salários, mas na forma como as mulheres precisam se portar no ambiente de trabalho. Uma a cada três entrevistadas afirma que precisa mudar a maneira de falar, controlar o tom de voz, os gestos, a roupa e até esconder traços da personalidade para ser melhor aceita socialmente.

Essa realidade, por mais que ainda esteja presente, é bem menor no espaço doméstico. Segundo o levantamento, 63% das mulheres dizem ter voz para expressar o que pensam em casa, enquanto apenas 34% afirmam o mesmo no trabalho. Nesse sentido, embora o lar ainda seja o principal cenário de violência de gênero no Brasil, é no ambiente profissional que muitas mulheres se sentem mais silenciadas.

Na prática, isso significa que a presença feminina em cargos de decisão não elimina, por si só, a pressão para que mulheres se comportem de maneira considerada aceitável, muitas vezes associada à docilidade, neutralidade emocional e adaptação a códigos masculinos de liderança.

A pesquisa

Criado para investigar como as mulheres se relacionam com o poder no Brasil, o Estúdio Clarice reúne pesquisadoras, escritoras, filósofas e lideranças femininas de áreas como política, economia, ciência, cultura, esporte, clima e tecnologia. O objetivo é produzir dados capazes de ampliar a percepção coletiva sobre liderança e protagonismo feminino.

Além da pesquisa, há a elaboração de produtos culturais, como livros, documentários, séries e podcasts. Entre as participantes do projeto estão nomes como as vereadoras Tainá de Paula (PT-RJ), Marina Bragante (Rede-SP) e Aava Santiago (PSDB-MT), além de Neca Setubal, Rosiska Darcy, Ana Maria Gonçalves, Djamila Ribeiro, Maria Homem e Geni Núñez.