Mulheres são as maiores vítimas da crise climática, apontam pesquisas

Desigualdade de gênero se agrava com os efeitos do aquecimento global, aumentando a pobreza, fome e violência

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O relatório Gender Snapshot 2024 revela que, até 2050, as mudanças climáticas poderão empurrar 158 milhões de mulheres e meninas para a pobreza Foto: Envato

A emergência climática deixou de ser um alerta distante. Ondas de calor, secas prolongadas, inundações e a ameaça crescente à segurança alimentar remodelam o mundo em ritmo acelerado, e essas mudanças não atingem todos da mesma forma. Em meio à crise, as desigualdades de gênero que já marcavam a vida de mulheres se aprofundam, especialmente para as que se encontram em situação de vulnerabilidade, segundo pesquisas recentes. 

O relatório Gender Snapshot 2024 revela que, até 2050, as mudanças climáticas poderão empurrar 158 milhões de mulheres e meninas para a pobreza, 16 milhões a mais do que homens e meninos. Hoje, há 47,8 milhões de mulheres a mais enfrentando fome em comparação aos homens, evidenciando um impacto desproporcional que é, antes de tudo, social e econômico.

A carga de gênero invisível

Em muitas regiões do mundo, são as mulheres que garantem água, comida e suprimentos para suas famílias, tanto em zonas rurais quanto nas periferias. Esse acúmulo de tarefas, aliadas ao cuidado da casa e com os filhos, é chamado por especialistas de “time poverty”, ou “pobreza de tempo”, na qual mulheres perdem horas que poderiam dedicar a trabalho remunerado, educação ou participação política, de modo a reforçar a desigualdade.

O aumento da temperatura global não traz apenas secas e enchentes, ele também aumenta a violência de gênero. De acordo com a UN Spotlight (2025), as mudanças climáticas ampliam tensões sociais e econômicas que alimentam casos de feminicídios. Durante ondas de calor extremo, pesquisas mostram crescimento de chamadas de emergência por agressão e até 28% no número de assassinatos de mulheres.

Na Etiópia, por exemplo, a seca de 2022 fez os casos de casamento infantil quadruplicarem e gerou um aumento de 20% nos episódios de estupro e violência por parceiro íntimo, segundo estudo publicado pela ReliefWeb.

Falhas estruturais e exclusão financeira

Segundo a Women ‘s World Banking, o apoio a programas de empoderamento feminino gera benefícios tanto ambientais quanto econômicos, fortalecendo a capacidade das comunidades de resistir às crises climáticas, o apoio a projetos de empoderamento feminino rende ganhos ambientais e econômicos.

Como empreendedoras, agricultoras, líderes, mães e cuidadoras, as mulheres são essenciais para a estabilidade familiar e social. No entanto, o setor financeiro demonstra dificuldade em prepará-las para enfrentar a crise climática. Dados do World Bank Group mostram que:

  • 753 milhões de mulheres em países vulneráveis ao clima não possuem conta bancária ativa nem carteira digital;
  • 880 milhões não têm meios acessíveis de receber auxílios emergenciais após desastres;
  • 1,41 bilhão de mulheres não contam com poupança formal;
  • Apenas 116 milhões de pessoas no mundo possuem microsseguros climáticos, com uma diferença de 20 pontos percentuais entre homens e mulheres nesse tipo de cobertura.