O home office, que começou como improviso em meio à pandemia, se transformou em parte fundamental da vida profissional, sendo uma expectativa da maior parte dos trabalhadores pela maior autonomia e flexibilidade. Mas um estudo do Insper em parceria com a consultoria Robert Half revela que, quando esse formato é colocado em debate, as mulheres são as com maior propensão a serem impactadas.
O levantamento, feito entre março e abril deste ano, mostra que reduzir ou eliminar o trabalho remoto aumenta de forma significativa a intenção de saída dos profissionais, sobretudo entre elas. Em um cenário de diminuição parcial do home office, 77% das mulheres disseram que deixariam a empresa, contra 66% dos homens. Se a modalidade fosse totalmente extinta, 81% das trabalhadoras que hoje atuam integralmente em casa afirmam que buscariam outro emprego.
O motivo vai muito além da conveniência. O trabalho remoto está associado à saúde mental, ao autocuidado e ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional, aspecto citado por 77% das entrevistadas. Entre elas, 81% acreditam que o estresse aumentaria sem a flexibilidade, e 73% receiam impactos diretos na saúde mental em caso de retorno completo ao presencial. Em todos os indicadores, os números femininos superam os masculinos. Outros benefícios citados foram a economia de tempo de deslocamento (97%), a redução de gastos (81%) e a maior proximidade com a família (73%).
Um estudo, realizado pelo Infojobs em 2024, ajuda a explicar esses resultados. Segundo a pesquisa, 83% das mulheres afirmam viver a chamada dupla jornada, acumulando o trabalho remunerado com afazeres domésticos e cuidados com filhos ou familiares idosos. Desse total, quase metade (45%) não conta com rede de apoio ou ajuda de parceiros. Nesse cenário, o home office não se configura como privilégio, mas como ferramenta essencial para a permanência e ascensão das mulheres no mercado de trabalho, que seriam impossibilitadas pelo aumento de demandas com o trabalho presencial.
O contrato psicológico
Antes da pandemia, a média de dias em home office mal chegava a um. Em 2020, com o isolamento, saltou para quase quatro. Hoje, estabilizou-se em 2,3 dias por semana e segue presente para 71% dos profissionais, sobretudo em setores como tecnologia, segundo dados do Insper.
Se antes da covid apenas 31% dos trabalhadores desejavam algum nível de home office, em 2025 esse índice alcança 83%. Mesmo entre quem está 100% no presencial, mais da metade gostaria de ter ao menos um dia à distância. É o que foi chamado na pesquisa de “contrato psicológico”: um conjunto de expectativas estabelecidas entre empresa e colaborador, no qual a flexibilidade se tornou uma das principais demandas.
E não é só em teoria. Entre os que trabalham todos os dias de casa, 83% aceitariam reduzir o salário para manter o regime remoto e 17% deles abririam mão de mais de 15% da remuneração para isso.