Mulheres seguem sub-representadas nas premiações científicas do Nobel em 2025

Em mais de 120 anos de história, apenas 26 mulheres receberam o Nobel nas áreas de Física, Química e Medicina, representando apenas 3,9% dos laureados

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Mary E. Brunkow, ganhadora do prêmio Nobel de Medicina Foto: AP Photo/Lindsey Wasson

Mais um ciclo de premiações do Prêmio Nobel chega ao fim e, novamente, o espaço para mulheres se mostra restrito. Em 2025, a americana Mary E. Brunkow foi a única mulher laureada nas categorias científicas, dividindo o prêmio de Medicina com dois colegas homens. Até agora, a venezuelana María Corina Machado foi a única mulher a dividir o feito, com o Nobel da Paz.

Ao longo de mais de 120 anos, apenas 65 mulheres receberam o Nobel, frente a 908 homens, considerando todas as categorias. Nos campos científicos, composto por Física, Química e Medicina, a diferença é ainda mais gritante: somente 26 mulheres foram premiadas, sendo 13 em Medicina, 8 em Química e 5 em Física, o que representa apenas 3,9% das premiações nessas áreas. A Física, em particular, se destaca pela menor presença feminina: 219 homens foram premiados para apenas cinco mulheres (2,2%).

O histórico de exclusão feminina se mantém evidente. Entre 1901 e 2000, apenas 11 medalhas científicas foram entregues a mulheres, enquanto entre 2001 e 2024 esse número subiu para 15, agora 16, um avanço tímido diante do crescimento da presença feminina na ciência.

A invisibilização do reconhecimento 

Ao revisitar a história, a premiação à canadense Donna Strickland em 2018 quebrou um intervalo de 55 anos sem nenhuma mulher premiada na categoria de Física. Antes dela, seis décadas separaram Maria Goeppert-Mayer, em 1963, da primeira mulher a receber a distinção, Marie Curie, em 1903. Desde então, houveram outras duas vencedoras: Andréa Ghez (2020) e Ana L’Huillier (2023).

A trajetória do Nobel também registra episódios de mulheres deliberadamente excluídas. É o caso da física austríaca Lise Meitner (1878–1968), que colaborou por mais de 30 anos com o químico alemão Otto Hahn em pesquisas sobre fissão nuclear. O mérito da descoberta foi atribuído exclusivamente a Hahn, que recebeu o Nobel de Química em 1944. Entre 1901 e 1965, Meitner foi indicada 48 vezes, sendo 29 para Física e 19 para Química, mas faleceu sem ter seu trabalho reconhecido.

Situações semelhantes ocorreram com a astrofísica britânica Jocelyn Bell, cujo orientador, Antony Hewish, recebeu o Nobel de Física em 1974 pelos estudos que resultaram na descoberta dos primeiros pulsares. Apesar da colaboração de Bell, apenas Hewish foi laureado.

A química britânica Rosalind Franklin (1920–1958) também não teve seu trabalho reconhecido, embora tenha sido essencial para a descoberta da dupla hélice do DNA, premiada em 1962 a James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins. “Então, não é que as mulheres não estivessem lá. Elas contribuíam com estudos relevantes, mas isso não era reconhecido”, explica a pesquisadora de física Ana Mizher, para o Jornal da Unesp.

Desafios ao longo da trajetória 

Além do reconhecimento tardio, as mulheres enfrentam desafios contínuos em suas carreiras: jornada dupla, pressão pela maternidade e assédios. Dados da Unesco mostram que 1 em cada 3 pesquisadores ativos no mundo é mulher, mas apenas 12% ocupam assentos em academias nacionais de ciência. 

Segundo o relatório, nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), elas representam 35% das matrículas nas universidades, número que diminui progressivamente ao longo da trajetória profissional. O fenômeno, conhecido como efeito tesoura, evidencia que, mesmo majoritárias em alguns cursos, as mulheres perdem representatividade à medida que a carreira avança, refletindo-se no menor número de laureadas com prêmios como o Nobel. 

Outros obstáculos incluem a falta de reconhecimento pelos próprios colegas homens. Um estudo publicado na revista Nature analisou cerca de 9.9778 grupos de pesquisa, concluindo que as mulheres representam apenas 34,85% dos autores em equipes de pesquisa, embora constituam 48,25% da força de trabalho.