Mulheres usam menos IA e relatam maior receio com a tecnologia, segundo pesquisa

Estudo revela receios sobre impactos da inteligência artificial no mercado de trabalho e destaca sua importância na educação e no cotidiano

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Mulheres relatam maior receio com a IA em relação ao mercado de trabalho Foto: Envato

A presença da Inteligência Artificial já faz parte da rotina da maioria dos brasileiros (75%), sendo que 32% afirmam que ela está muito presente, segundo a pesquisa “Consumo e uso de Inteligência Artificial no Brasil”, realizada recentemente deste ano e divulgada pelo Observatório Fundação Itaú e pelo Datafolha. Mais do que isso: 93% dos participantes utilizam alguma ferramenta que aplica a tecnologia de alguma maneira. 

Entre as mulheres entrevistadas, 82% disseram já ter ouvido falar em IA, percentual semelhante ao registrado entre os homens (83%). Entretanto, quando o tema é compreensão do conceito, a diferença aumenta: apenas metade das mulheres (50%) afirmou entender o que significa o termo, contra 57% entre os homens.

A pesquisa também aponta que as redes sociais são a principal fonte de informação sobre IA, mencionadas por 66% dos entrevistados. Em seguida aparecem jornais e noticiários (44%) e, na terceira posição, filmes, séries e obras de ficção científica, citados por 25%.

Uso prático de Inteligência Artificial

O uso cotidiano da IA também revela diferenças. Enquanto 33% das mulheres percebem a tecnologia muito presente no dia a dia, um quarto (24%) ainda considera que ela não faz parte da própria rotina.

Segundo a pesquisa, 93% das pessoas utilizam alguma ferramenta de IA. No acesso a recursos digitais, as mulheres se destacam pelo uso de redes sociais com algoritmos inteligentes — 89% delas utilizam esse tipo de tecnologia. A porcentagem também é grande nas plataformas de recomendação de filmes e músicas, como Netflix e Spotify (77%). No entanto, quando se trata de ferramentas mais complexas, os índices caem: 59% utilizam aplicativos de navegação como Waze e Google Maps, frente a 68% dos homens. O mesmo ocorre com geradores de texto como o ChatGPT (40% contra 47%) e softwares de imagem e vídeo (28% contra 35%).

Outro dado relevante é o tipo de acesso. Sete em cada dez mulheres recorrem apenas a versões gratuitas das ferramentas, ligeiramente acima da taxa registrada entre homens (68%). Apenas 10% delas pagam por serviços de IA, enquanto 21% combinam modalidades paga e gratuita.

Entre os usuários de ferramentas que já utilizaram IA (70%), quase metade (48%) das mulheres relatam que a utilizam para apoiar o trabalho, mesma porcentagem para estudos e para se divertir. 

Quando perguntados sobre sua utilização em situações do cotidiano, os números permanecem similares aos dos homens em relação a buscas, resumo de documentos, recomendação, mantendo-se ambos os sexos na margem de 50%. A maior diferença se dá na sua utilização para monitorar atividades físicas, encontrar sugestões de dietas ou auxiliar no diagnóstico médico (48% das mulheres contra 40% dos homens) e para gerar códigos de programação, auxiliar no design de sistemas ou depurar programas (20% contra 17%). 

A falta de interesse (34%) é o principal motivo entre aqueles que disseram nunca terem utilizado ferramentas de IA, seguido por desconhecimento (24%), dificuldade na utilização (19% dos homens contra 15% das mulheres) e falta de confiança (13% e 16%). 

Inteligência Artificial e educação

O estudo revela também que 9 em cada 10 dos entrevistados (90%) concordam que todos os estudantes deveriam aprender a interagir com tecnologias de IA de forma responsável. A frase “a IA é essencial para preparar os estudantes para carreiras futuras” gerou concordância entre 82% dos homens e 75% das mulheres, 81% das entrevistadas concordam que “a IA pode auxiliar diretamente no aprendizado dos estudantes” e 85% concordam que “os professores deveriam ter formação para integrar IA de forma responsável no processo de ensino-aprendizagem”.

Entre as mulheres que utilizam IA, 65% acreditam que ela ajuda muito nos estudos, e 73% já aprenderam algo novo por meio da tecnologia. Em relação à confiança nos resultados gerados, 40% dizem confiar muito e 58%, confiar um pouco. Percentual semelhante das que afirmam sempre checar os resultados da IA (55%).

Sobre o interesse em aprender mais sobre IA, 59% das mulheres afirmam ter vontade, frente a 66% dos homens.

Percepções sobre trabalho e futuro

Cerca de sete em cada dez mulheres entrevistadas acreditam que a IA pode representar um risco para a sociedade caso seja usada sem regulamentação (79%) e que ela pode ser usada para criar informações ou notícias falsas (76%). Além disso, 57% acreditam que a tecnologia pode substituir trabalhadores ou profissões no futuro, e 30% acham que ela consome recursos naturais, prejudicando o meio ambiente. Por outro lado, 58% acreditam que a IA pode inspirar a criação de novas ideias e 45% veem utilidade no dia a dia de trabalho e estudos.

A percepção de que a IA representa uma ameaça aos empregos é mais comum entre as mulheres (51%). Já as visões positivas sobre seus impactos são mais frequentes entre os homens (46%). 

Metade das entrevistadas (52%) afirma que a IA não impacta em nada a forma como trabalham. A outra metade se divide entre as que veem impacto positivo (41%) e negativo (7%).

Em relação à empregabilidade, 36% das mulheres acreditam que a IA vai reduzir suas chances de conseguir um emprego, contra 29% dos homens. Entre os que acreditam que a tecnologia pode aumentar as oportunidades, os índices são de 22% para mulheres e 31% para homens. Para 42% delas, a IA não fará diferença.

Percepções sobre riscos e ganhos

O principal receio em relação à IA é o uso e coleta de dados pessoais sem controle, citado por 42% dos entrevistados. Em seguida aparecem a utilização para fins maliciosos, manipulação ou vigilância (36%) e a substituição de trabalhadores, provocando desemprego em massa (34%).

Quanto aos benefícios esperados da IA para a sociedade, os mais citados foram o apoio ao avanço da ciência e inovação (41%), a melhoria na qualidade da educação (41%) e avanços em diagnósticos médicos e tratamentos personalizados (39%).

Em relação ao uso da IA na saúde mental, 45% dos entrevistados disseram já ter recorrido à tecnologia com essa finalidade. Entre as mulheres, 30% relataram utilizá-la para aliviar ansiedade ou estresse, frente a 24% dos homens. A porcentagem também é maior entre aquelas que sentiram que a IA ajudou a lidar com questões emocionais (61%).

Oito em cada dez entrevistados concordam que os conteúdos gerados ou alterados por IA deveriam ser, por lei, claramente identificados. Esta foi a frase com maior índice de concordância entre as opções apresentadas. Além disso, 74% afirmam que a existência de vídeos e áudios falsos, embora realistas, reduzem sua confiança nas mídias digitais.