A indústria da moda, que antes era reconhecida como uma experiência sensorial sempre envolvendo a interação pessoal, passa por uma profunda transformação impulsionada pela tecnologia. O uso cada vez mais frequente de dados, inteligência artificial e chatbots está não apenas mudando a forma como os consumidores se relacionam com as marcas, mas também criando novas demandas no setor do varejo de moda.
A presença digital se tornou indispensável. As lojas de moda agora precisam estar online para atrair consumidores que valorizam a conveniência e a rapidez na hora de fazer compras. A pandemia de COVID-19 acelerou esse movimento, resultando em um aumento significativo nas vendas online.
No Brasil, por exemplo, o comércio eletrônico viu um salto de R$ 178 bilhões para cerca de R$ 450 bilhões entre 2019 e 2022, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Em 2023, o faturamento do e-commerce no país atingiu R$ 185,7 bilhões, com 395 milhões de pedidos realizados por 87,8 milhões de consumidores virtuais. Isso mostra que um em cada três brasileiros fez pelo menos uma compra online no último ano. Esses números evidenciam uma tendência que parece irreversível e que está projetada para superar R$ 200 bilhões em 2024.
A geração Z, em particular, prefere fazer compras online em vez de visitar lojas físicas, impulsionando ainda mais o crescimento do varejo digital.
No entanto, quando se trata de produtos de alto valor agregado, a conexão pessoal e a interação presencial voltam a ter um peso significativo. Para unir esses dois mundos, o conceito de “figital” – a fusão do físico com o digital – ganhou espaço e se tornou praticamente obrigatório para sobreviver nesse novo mercado.
Como forma de enfrentar esse desafio, tecnologias como a realidade aumentada e virtual estão sendo aperfeiçoadas para proporcionar experiências imersivas e visuais aos consumidores, melhorando a interação com os produtos e ampliando o alcance das marcas premium da moda no ambiente online.
Para tornar o quadro um pouco mais complexo, uma pesquisa recente do Sebrae constatou algo que muitos proprietários de lojas já sabem: consumidores mais maduros preferem fazer compras, mesmo com todas as ferramentas tecnológicas disponíveis, usando canais digitais mas sendo influenciados por recomendações de pessoas reais.
Para enfrentar essa nova realidade, as empresas de varejo de moda precisam fazer adaptações significativas. Treinar as equipes para conduzir a experiência de compra por meio dos canais digitais e utilizar ferramentas de automação para criar ofertas personalizadas e exclusivas são apenas alguns dos desafios que o setor enfrenta.
As empresas que não se adaptarem rapidamente a essas demandas do consumidor moderno correm o risco de ficar para trás.
A integração de tecnologia com a criatividade e a emoção proporcionada pelas conexões pessoais será essencial para criar uma estrutura de negócios escalável e segura capaz de prosperar nesse novo universo digital do varejo de moda.
No entanto, assim como em outros setores da sociedade, observamos a convivência dessa realidade com forte onda conservadora que tenta negar a queda de velhos paradigmas e manter tudo como está. E a moda, como linguagem que reflete comportamentos, vive também essa contradição. Que se torna evidente quando observamos confeccionistas e lojistas que ainda não acreditam na mudança e, mesmo com prejuízos, tentam manter sua estrutura como sempre foi. Ou assistimos grandes eventos, como o último tradicional baile de gala Met, que mostrou verdadeiro show de figurinos trabalhados no conservadorismo.