Essas últimas semanas correram em ritmo tão acelerado que tenho tido aquela estranha sensação de que o tempo passou rápido demais, e ao mesmo tempo parece que fiz coisas demais para caber no tempo que passou.
Tem muita coisa séria acontecendo no mundo e confesso que está difícil conseguir dormir ao acompanhar as notícias da guerra.
Penso nas mulheres e nas crianças em extrema condição de vulnerabilidade, penso na destruição. Tudo fica pequeno diante disso e esse “meu tempo” que corre rápido demais também acaba ficando um pouco tolo.
Não quero e jamais teria a pretensão de fazer uma análise da guerra. Já é assustador ler nas redes depoimentos que expressam uma tentativa de encontrar algum lado. A meu ver não se trata disso ou ao menos penso que não deveria se tratar diante da gravidade do que está acontecendo com vidas inocentes de ambos os lados.
Se ainda fôssemos verdadeiramente humanos neste tribunal da internet que relativiza a palavra absurdo, abster-nos-íamos da necessidade de publicar míseras opiniões sobre toda e qualquer coisa e talvez seríamos poupados de metade das nossas nóias psicológicas.
Mas… voltando a esse ano que passou em poucos dias, recorri novamente ao livro escrito pela filósofa indiana chamada Vandana Shiva, Ecofeminismo. No podcast/videocast “Respire e diga sim”, que gravei com a Luciana Vendramini, citei o assunto sem nos aprofundarmos nele.
A Vandana nos apresenta o conceito de ecofeminismo – que destaca a conexão entre a exploração da natureza e a busca pelo domínio das mulheres, mostrando como a visão de mundo patriarcal promove uma mentalidade de exploração que afeta tanto o meio ambiente quanto as mulheres. Isso basicamente quer dizer que… essa “necessidade” de possuir e dominar tudo, a busca implacável pelo crescimento econômico, a exploração e degradação do meio ambiente, a guerra e a opressão das mulheres estão diretamente ligadas e conectadas pela lógica do patriarcado.
Se fizermos uma pequena reflexão sobre a questão da agricultura familiar que no Brasil é responsável por 70% do alimento consumido e conta com a presença majoritariamente feminina (80% mais mulheres do que homens) conseguiremos entender que o desmatamento e a questão climática também atravessam uma questão de gênero. E assim com a guerra: em 2010 foi revelado pelo relatório da ONU que as crianças e mulheres são as que mais continuam sofrendo sequelas após o término dos conflitos e a instauração da paz.
De acordo com as palavras de Vandana:
“O sistema político e econômico, que tem mais de duzentos anos de história, o capitalismo patriarcal, se baseia na guerra contra a Terra, guerra contra as mulheres, guerra contra a vida.”
Dessa forma combater o patriarcado não se resume a um “textão” de rede social mas a necessidade de uma ação prática tanto para homens quanto mulheres pela nossa existência e preservação da natureza.
É… o tempo tem passado rápido demais. O pensamento que ecoa: “quando vi… já era novembro” não parece fazer sentido ao tentar encaixar tudo o que aconteceu na contagem dos dias. Uma equação complexa de solucionar.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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