“Eu queria agradecer a mim mesma por não ter desistido.” Esta frase da Anitta no Rock In Rio caiu no meu colo como uma das maiores verdades que já ouvi alguém ter coragem de dizer. Acredito que a popularização do auto amor deveria ser encarada com a mesma naturalidade, a mesma com que a cantora costuma anunciar para seus fãs a próxima rebolada.
Não estou me referindo aqui à doença egóica que pode cegar nosso discernimento. Saber reconhecer sua história, encontrar sua voz e assumir suas escolhas é como pichar dentro de si mesmo aquela frase que tomou conta dos muros de São Paulo, alguns anos atrás: “O amor é importante, porra.”
Comecei a compreender isso ao aceitar a palavra processo. Trago uma explicação de forma prática talvez para o meu próprio entendimento. Quando entramos na sala de ensaio, não posso mentir, sempre vamos com a expectativa de acertar – como fazemos com quase tudo na vida. Só que o processo é exatamente o contrário. É você se permitir errar e abrir a escuta para aquilo com que não concorda, e a partir daí encontrar algo novo e surpreendente. Errar com propriedade, ou quase um errar “já acertando sem querer”, para estar aberto e vulnerável e então fazer da gafe o gol.
O caminho tortuoso do artista, como já diz a sentença, não é fácil. Assim como não são fáceis os caminhos de qualquer pessoa a serviço do que foi destinada a fazer. Encontrar o timing, a presença e principalmente entender o momento de quando desistir de tudo isso para dar espaço para o que precisa acontecer, além do próprio controle, é trabalhoso e muitas vezes sofrido.
Dizer que a arte do ator é a arte da espera faz total sentido, mas resumir essa frase a ponto de traduzi-la como a ação de esperar é limitar a sua voz à vontade do outro. Comecei a me autoproduzir quando comecei a pensar em desistir, queria trazer à tona questionamentos, pautas e ideias que não encontravam lugar, fazer personagens que não imaginassem que eu poderia fazer, trabalhar com pessoas que talvez não estariam nos projetos que me chamariam para estar e principalmente acalmar a inquietação do que eu acreditava ser interessante compartilhar.
“Subo nesse palco e minha alma cheira a talco”, como já dizia Gilberto Gil, é uma convocação à celebração de estar no palco, ou melhor: estar em estado de arte.
Se cheguei até e conquistei algumas coisas foi porque, mesmo que duvidando, eu pensava que um dia poderia me agradecer por não desistir.
Aquário Com Peixes é uma dessas conquistas, um projeto pelo qual batalhei por dois anos e que estreou semana passada, no Teatro do Sesc Santana, em São Paulo.
Fico feliz por ter conseguido realizar a peça, mais feliz ainda por ter ao meu lado aqueles que também não desistiram, e por isso chegamos juntos até aqui dizendo: “O amor é importante, porra”.
Serviço:
Ficha técnica:
Autor: @franzkeppler
Direção: @marcela.lordy
Idealização: @carolinamanica
Diretora assistente: @zizabrisola
Atrizes: @carolinamanica e @natalliarodrigues__
Fonoaudióloga: @ana_maria_parizzi
Cenário e Direção de Arte: @fernandacarlucci e @f.pa7
Assistência de Cenografia: @guifrancoso
Figurino: @fnmtme
Modelista @julianolopes
Produção de figurino: Carol Zilig
Costureiro: Fernando Reinert
Visagismo: @louisehelene_
Desenho de luz: @cesarpivetti
Programador de luz: Luiz Fernando
Equipe de iluminação: Ricardo Oliveira e Luiz Fernando
Desenho de som: @edsonsecco
Operação de som: Aghata
Fotografia: @catan_ale
Assistente de fotografia: Rafael Sá e @zedu_moreau
Identidade Visual: @julio_dui
Criação de conteúdo e mídias: @gatufilmes , @ga.metzner e @arthurhbr
Produção: @nossocultural
Direção de Produção: @ricardograsson
Produção Executiva: @hheitorgarcia
Assessoria de Imprensa: @abalsanelli e Renato Fernandes.
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