A tecnologia desempenha um papel fundamental no empoderamento feminino e na nova economia. É uma grande força motriz para ajudar as mulheres a ganharem autonomia e realizarem seus objetivos. Fornece ferramentas para que elas possam acessar informações, criar conexões e expandir seus negócios, permitindo que mulheres enfrentem o desafio de equilibrar os seus múltiplos papéis e responsabilidades, o que  exige uma habilidade de gerenciamento do tempo e do estresse com mais rapidez e eficiência.

Por meio da tecnologia, as mulheres criam seus próprios negócios, trabalham de forma flexível, compartilham experiências, promovem mudanças e adquirem habilidades e conhecimentos. No entanto, temos que reconhecer que a tecnologia também pode trazer desafios, como a reprodução de estereótipos de gênero ou a exclusão digital de mulheres em situações de vulnerabilidade. É necessário, portanto, promover a inclusão digital e garantir que todas as mulheres tenham acesso às oportunidades e benefícios oferecidos pela tecnologia.

O empoderamento feminino é o processo de fortalecimento das mulheres, tanto individual quanto coletivamente, para que possam adquirir autonomia, igualdade de direitos e participação plena na sociedade. Envolve o combate à desigualdade de gênero, a valorização das capacidades e potencialidades, e o incentivo ao seu empoderamento econômico, político, social e cultural, além da criação de um ambiente onde as mulheres possam tomar decisões, exercer sua voz e ter controle sobre suas vidas. Devemos apoiar o  empoderamento feminino porque ele contribui para eliminar as desigualdades históricas e estruturais entre homens e mulheres, promovendo uma sociedade mais justa, inclusiva e equitativa.

A ONU define o empoderamento feminino como um processo pelo qual as mulheres ganham controle sobre sua vida e seu bem-estar, bem como a capacidade de influenciar as mudanças sociais e econômicas que afetam suas vidas. Ele envolve a eliminação de todas as formas de discriminação e violência contra as mulheres e meninas, além de promover a igualdade de gênero em todas as esferas da vida.

Recentemente eu tive o prazer de conhecer Jennifer Nyambogo, que juntamente com Pauline Kariuki, fundou a Mawu Africa, uma startup que se tornou a fornecedora líder de soluções digitais para o setor de economia criativa na África. A plataforma Mawu tem um propósito maior: empoderar e beneficiar as talentosas artistas mulheres africanas. Jennifer, nascida no Quênia, criou esse negócio com a visão de que os produtos dessas artesãs seriam vendidos em todo o planeta.

 

A mulher na nova economia

 

A nova economia é um conjunto de ideias, práticas e modelos de negócios emergentes que estão transformando a forma como a economia é estruturada e como as pessoas interagem com ela. Ela é baseada em princípios como inovação, colaboração, sustentabilidade e uso eficiente dos recursos, impulsionados pela rápida evolução da tecnologia, incluindo a internet, as plataformas digitais, a inteligência artificial e o blockchain, entre outros. A nova economia valoriza o empreendedorismo, a economia criativa, o compartilhamento de recursos, a sustentabilidade e a flexibilidade no trabalho, entre outras características.

As mulheres estão se destacando em diversos setores da nova economia. Tecnologia, empreendedorismo, sustentabilidade, energias renováveis, setor de saúde e bem-estar e economia criativa são apenas algumas áreas nas quais as mulheres estão liderando o caminho. Elas estão trazendo inovação e perspectivas únicas para esses setores, e oportunidades estão aumentando à medida que a igualdade de oportunidades é promovida. 

É tão gratificante ver, à medida que as indústrias se transformam e novas tecnologias emergem, mulheres se destacando em suas  áreas de atuação. E por falar em representação feminina em cargos de liderança, eu tive o privilégio de conhecer duas mulheres incríveis: Catia Stoyan e Nina Silva.

Catia Stoyan fundou a Stoyan Energia em 2010 mas já atua no setor há cerca de 25 anos. A empresa desenvolve soluções e projetos de energia solar para o B2B e B2C. As dificuldades em empreender em um setor dominado por homens foram transformadas em energia para atingir suas metas e objetivos.  Em 2022  ela ganhou o prêmio Rise to the Challenge, organizado pela  WeConnect International, em duas categorias em que concorria, inclusive a mais importante delas, a de mulher empreendedora, em que disputava com outras oito mulheres do mundo todo. 

Nina Silva foi considerada a Mulher Mais Disruptiva do Mundo pela Women ln Tech Global Awards 2021, uma das 100 afrodescendentes mais influentes do mundo abaixo de 40 anos pela MIPAD (Most lnfluential People of African Descent). Ela também é sócia fundadora do Movimento Black Money, focado na articulação e emancipação  social, financeira e profissional da população negra brasileira, que, mais tarde, se desdobrou no D’Black Bank.    

Por isso a inclusão de mulheres no mercado de tecnologia não é apenas uma questão de justiça social, mas também de crescimento econômico e avanço tecnológico. 

Existem diversas pesquisas sobre mulheres na área de tecnologia, tanto no Brasil quanto no mundo.

 

Conheça mais pesquisas sobre mulheres na área de tecnologia

 

Women in Tech 2021 (Relatório Global) – Pesquisa realizada pela TrustRadius sobre a representatividade feminina  em cargos de liderança em empresas de tecnologia em todo o mundo. O relatório indica que apenas 23% dos cargos de liderança em tecnologia são ocupados por mulheres. Nos Estados Unidos, apenas 27% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres. Além disso, a pesquisa revelou que as mulheres ocupam apenas 19% dos cargos de C-level. 

Women in Tech 2021 (Pesquisa Brasil) – Realizada pela empresa de recrutamento Hays, a pesquisa mostrou que, apesar de ainda haver desigualdade de gênero na área de tecnologia no Brasil, a maioria das empresas está trabalhando para mudar essa realidade. De acordo com a pesquisa, 75% das empresas entrevistadas têm estratégias para aumentar a representatividade feminina em suas equipes.

Mulheres na Tecnologia (Pesquisa Brasil) – Realizada pela empresa de recrutamento Talenses em parceria com a Insper, a pesquisa revelou que apenas 17% dos profissionais de tecnologia no Brasil são mulheres. Além disso, a pesquisa apontou que a falta de oportunidades de crescimento é a principal barreira para a inclusão das mulheres na área. 

Women in Tech Index (Relatório Global) – Realizado pela empresa de recrutamento e treinamento de tecnologia HackerRank, o relatório avaliou a representatividade feminina em cargos de tecnologia em diversos países do mundo. O Brasil ficou em 16º lugar no ranking, com uma pontuação de 34,2 em 100.

A jornada para se tornar uma mulher de TI começa muito cedo, ainda na educação infantil. A grande maioria das meninas é desencorajada a estudar matérias exatas, como física e matemática. As que desafiam as convenções sociais e se dedicam a essa área do conhecimento enfrentam grandes provações. Cerca de 43% afirmam sofrer preconceito na universidade, já que os cursos são majoritariamente masculinos. Mas, os maiores problemas estão mesmo no ambiente de trabalho.

 

Iniciativas para promover a equidade de gênero

 

O ecossistema de mulheres tech é uma rede de indivíduos, organizações, comunidades e recursos que apoiam e promovem a participação, o avanço e o empoderamento das mulheres no setor de tecnologia. Essa rede abrange uma ampla gama de iniciativas, como grupos de apoio, comunidades online e offline, programas de mentoria, eventos, conferências, programas de capacitação, startups lideradas por mulheres, organizações sem fins lucrativos e muito mais. 

É fundamental continuar investindo na inclusão e no empoderamento das mulheres na tecnologia, garantindo que elas tenham as mesmas oportunidades de crescimento e desenvolvimento que os homens. A diversidade de gênero é um ativo valioso para a inovação e o progresso tecnológico, e devemos trabalhar juntos para criar um or ambiente mais inclusivo e igualitário. Por isso é primordial que empresas e governos incentivem a formação e capacitação das mulheres para desenvolver suas habilidades técnicas e soft skills. Que invistam no treinamento e no empoderamento das mulheres para desenvolver suas habilidades técnicas e interpessoais. 

Além disso, é necessário criar programas de apoio que ofereçam oportunidades de trabalho, programas de bolsas de estudo, que podem ser criados para mulheres que querem entrar no campo, bem como incentivos fiscais para empresas que contratam profissionais qualificados do sexo feminino. Ao fazer isso, podemos garantir que as mulheres tenham as mesmas oportunidades que os homens.

Algumas iniciativas buscam incentivar mais mulheres a ingressarem em carreiras relacionadas à tecnologia, fornecendo suporte, inspiração e recursos necessários para o crescimento profissional, além de facilitar a criação de redes e colaborações entre mulheres que trabalham no setor de tecnologia. Conheça alguns delas:

 

A PrograMaria busca empoderar meninas e mulheres por meio da tecnologia e programação.

WoMakersCode impulsiona o protagonismo feminino na tecnologia, por meio de capacitação, mentoria e empregabilidade.

Elas Programam é uma consultoria especializada em desenvolver soluções para engajamento, capacitação e contratação de talentos femininos de tecnologia.

{reprograma} é uma iniciativa de impacto social que tem como missão diminuir a lacuna de gênero no setor de tecnologia, por meio da capacitação profissional em programação de mulheres em situações de vulnerabilidade, priorizando negras, trans e travestis em seus processos seletivos.

Minas Programam é uma iniciativa criada em 2015 para desafiar os estereótipos de gênero e de raça que influenciam as áreas de ciências, tecnologia e computação. Promove oportunidades de aprendizado em programação para meninas e mulheres.

Mulheres de Produto estimula o desenvolvimento e capacitação profissional para pessoas que se identificam como mulheres brasileiras que desejam ingressar ou se especializar em áreas de tecnologia, engenharia, design e ciências aplicadas.

Mulheres em Dados promove trocas, mentorias, conversas, ajudas, workshops, suporte e amparo, com o objetivo de reverter a desigualdade de gênero exacerbada em dados e tecnologia.

 

Negócios na nova economia com foco em tecnologias

Esses exemplos mostram como as mulheres podem aproveitar suas habilidades e conhecimentos específicos para criar negócios de sucesso na nova economia baseada em tecnologias: 

  1. Desenvolvimento de aplicativos, jogos interativos ou ferramentas de aprendizagem para crianças, aproveitando a demanda por conteúdo digital seguro e educativo para os pequenos.
  2. Consultoria em segurança cibernética para ajudar as organizações a fortalecer sua proteção digital.
  3. Loja online para vender produtos exclusivos, como joias feitas à mão, itens de decoração, roupas personalizadas ou produtos de cuidados pessoais naturais.
  4. Treinamentos e workshops para ajudar outras mulheres a aprimorar suas habilidades digitais e empreender online.
  5. Desenvolvimento de aplicativos, plataformas ou dispositivos que facilitem o acesso a cuidados de saúde, monitoramento de condições médicas ou promoção do bem-estar.
  6. Serviços de consultoria em transformação digital para orientar e implementar estratégias que melhorem sua eficiência, produtividade e inovação.

 

Quebrando paradigmas

 

Temos que quebrar o paradigma de associação de gênero com determinadas funções. A ideia de que as mulheres são mais emocionais e voltadas ao cuidado, enquanto os homens são mais racionais e objetivos, é um estereótipo prejudicial e limitante. Esse estereótipo pode desencorajar as mulheres a buscar carreiras em tecnologia e outras áreas STEM, o que perpetua a desigualdade de gênero no mercado de trabalho e limita as oportunidades de carreira das mulheres. Quando as mulheres são sub-representadas em áreas como a tecnologia, elas também são sub-representadas em empregos bem remunerados e em alta demanda no mercado. A falta de diversidade limita a capacidade de uma empresa ou setor de inovar e criar soluções que atendam às necessidades de todos os membros da sociedade. Portanto, ao incentivar e acolher as mulheres desde a infância e adolescência para que identifiquem e sigam carreiras em tecnologia e outras áreas STEM (acrônimo para Science, Technology, Engineering and Mathematics),  abrindo oportunidades valiosas para elas e ajudando a criar um mercado de trabalho mais diverso e inclusivo. Isso contribui para maior inovação, criatividade e sucesso econômico da sociedade como um todo.

 

“The Dream Gap Project”

As garotas acreditam que podem ser qualquer coisa, mas o mundo quer?

 

O “The Dream Gap Project” foi lançado pela empresa de brinquedos Mattel em outubro de 2018, com o objetivo de combater o “gap” ou lacuna dos sonhos que afeta meninas em idade escolar, limitando suas aspirações e crenças em seu próprio potencial. O projeto fornece recursos, ferramentas e apoio para capacitar meninas a desenvolverem confiança, habilidades e conhecimentos em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM -Science, Technology, Engineering and Mathematics), além de outras áreas profissionais em que as mulheres estão sub-representadas. O objetivo é ajudar a fechar essa lacuna, capacitando meninas a alcançarem seus sonhos e se tornarem líderes e profissionais bem-sucedidas em qualquer campo que escolham.

O “The Dream Gap” inclui uma série de iniciativas, como a criação de bonecas da Barbie que representam mulheres bem-sucedidas em campos como a ciência e a tecnologia, e a parceria com organizações sem fins lucrativos para fornecer recursos e mentoria para meninas em todo o mundo. A empresa também criou uma série de vídeos que destacam as histórias inspiradoras de mulheres que superaram obstáculos para alcançar o sucesso em suas carreiras. “Dream Gap” é um exemplo de como as empresas podem usar sua influência e recursos para promover a igualdade de gênero e inspirar meninas a perseguir seus sonhos.

 

 

E-mail para uma Mulher

Querida amiga,

Eu queria que você soubesse que estou aqui para apoiá-la em tudo o que você fizer, especialmente em relação aos seus sonhos e objetivos profissionais. Eu sei que você está passando por um momento difícil, mas eu quero que você saiba que pode escolher qualquer carreira profissional, independentemente de ser mulher. Você é capaz e tem todo o potencial para alcançar o que deseja. Aliás, você pode ser o que quiser na vida.

Se você sonha em ser uma cientista, engenheira, médica, astronauta, professora, CEO, conselheira, ou até mesmo presidente do Brasil, você pode fazer isso acontecer. Lembre-se de que você é capaz de ser quem você quiser, e não há nada que possa impedi-la de conquistar seus sonhos.

Acredite em si mesma, siga seus sonhos e trabalhe duro para alcançá-los. O mundo precisa de mulheres como você para liderar e fazer a diferença. Não deixe que ninguém diga que você não pode fazer algo por causa do seu gênero. Eu acredito em você e no que você é capaz de fazer. Então, siga em frente, persevere e nunca deixe ninguém dizer que você não pode alcançar seus sonhos! Conte sempre comigo para apoiá-la em todas as suas conquistas.

 

Com muito carinho,

Núbia Lentz

 

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.