Paridade de gênero nas lideranças de empresas pode levar 160 anos, mostra pesquisa

Paridade de gênero nas lideranças de empresas pode levar 160 anos, mostra pesquisa

A presença feminina na alta liderança das empresas brasileiras segue estagnada. É o que mostra a edição 2025 da pesquisa Panorama Mulheres, conduzida pelo Instituto Talenses Group em parceria com o Núcleo de Estudos de Gênero do Insper. Foram 300 empresas analisadas e, entre as 224 companhias com presidência formalizada, apenas 39 são lideradas por mulheres — o equivalente a 17,4% do total. Segundo o levantamento, mantido o ritmo atual, a paridade de gênero nas lideranças corporativas pode levar mais de 160 anos para ser alcançada. Com informações de Meio&Mensagem.

A desigualdade se acentua conforme o nível hierárquico. Em 2024, mulheres ocupavam 20% dos cargos de vice-presidência, uma queda em relação aos 34% registrados em 2022. Já entre as diretorias, houve crescimento de 26% para 30%, embora 32,5% das empresas ainda não tenham nenhuma mulher nesse nível. Nos conselhos de administração, apenas 17,1% das cadeiras são ocupadas por mulheres e, em 57,4% das empresas com conselhos ativos, não há sequer uma representante feminina.

Diante das barreiras enfrentadas no ambiente corporativo — como o teto de vidro, o viés inconsciente e a rigidez das estruturas tradicionais — muitas mulheres têm recorrido ao empreendedorismo como alternativa para conquistar autonomia e protagonismo. A pesquisa aponta uma proporção significativamente maior de trajetórias empreendedoras entre as mulheres que chegam à presidência, especialmente em empresas de menor porte: 36% lideram negócios com até 200 colaboradores, enquanto 40% dos homens estão à frente de grandes corporações com mais de mil funcionários.

O recorte racial revela um cenário ainda mais excludente: cerca de 90% das presidências continuam sendo ocupadas por pessoas brancas, tanto entre homens quanto entre mulheres. A presença de mulheres pretas, indígenas e amarelas nesses espaços segue praticamente nula.

O estudo também avaliou práticas institucionais de promoção da equidade. Das empresas ouvidas, 54,2% afirmaram ter estratégias ESG estruturadas — queda em relação aos 59% registrados em 2022. Apenas 24,5% das companhias reúnem os três pilares principais de diversidade: estratégias ESG, compromissos públicos e planos de ação voltados à equidade de gênero. Ações como revisão de políticas de recrutamento, treinamentos sobre vieses inconscientes e flexibilização de jornadas são as mais comuns, mas só 29,2% das empresas mencionam políticas de promoção de mulheres a cargos estratégicos.

Ainda segundo a pesquisa, companhias lideradas por mulheres apresentam maior presença feminina em todos os níveis de liderança e governança, embora isso não se traduza, necessariamente, em maior estruturação institucional. Enquanto 64,1% dessas empresas contam com planos de ação voltados à equidade, 61,7% das lideradas por homens adotam estratégias ESG.

Com a proximidade de novas exigências regulatórias — que obrigarão empresas listadas na bolsa a incluir, até 2026, pelo menos uma mulher e um representante de comunidades sub-representadas em seus conselhos ou diretorias — o tema ganha ainda mais urgência. A medida, proposta pela B3 e avaliada pela CVM, busca fomentar a diversidade na alta liderança corporativa brasileira.