No Reino Unido, a presença de mulheres negras nas instâncias mais altas da academia ainda é pequena. Em maio de 2024, apenas 70 ocupavam o cargo de professoras, número que representa menos de 1% do total no país. Novo pesquisa publicada no The Conversation revela que, mesmo nos níveis mais iniciais, muitas delas seguem contratadas em modelos temporários, sem possibilidade de crescer no setor.
A exigência para chegar ao título de professora é alta, sendo essencial a participação em pesquisas, publicações em periódicos de impacto, obtenção de financiamentos e orientação de alunos de doutorado. Mas para mulheres negras, esse percurso é composto por mais obstáculos.
Grande parte dessas profissionais atuam em universidades mais novas ou menos voltadas à pesquisa. Nesses espaços, a carga de aula e de apoio estudantil costuma ser muito maior, reduzindo o tempo disponível para efetivamente participarem de produções científicas.
A sobrecarga de trabalho
A distribuição das oportunidades também é desigual. Segundo a pesquisa, é normal que se espere que elas assumam tarefas de acolhimento estudantil e atividades de diversidade e inclusão. O que, por mais que seja um trabalho importante, raramente é valorizado ou contabilizado nos critérios para progressão de suas carreiras.
O estudo mostra que as mulheres negras também enfrentam desde microagressões até questionamentos diretos sobre sua competência, convivendo com a sensação constante de precisarem se provar.
Essa falta de pertencimento faz com que, muitas vezes, elas acabem liderando iniciativas para tornar esses espaços mais equitativos, enquanto tentam, em paralelo, corresponder às mesmas metas de produtividade que seus colegas.
A dificuldade de representatividade
Uma das constatações apresentadas é de que sua produção científica tende a ser menos notada, citada ou celebrada. Essa dinâmica também pesa nas relações internas. Muitas relatam ambientes hostis ou pouco acolhedores, onde são ignoradas em reuniões e tratadas com menor credibilidade.
Diante desse cenário, redes independentes de apoio surgiram como espaços vitais. Uma das autoras do estudo, Yaz Iyabo Osho, fundou a Global Ethnic Majority Women in Academia, que reúne e fortalece mulheres de minorias étnicas. Outras iniciativas citadas pelo estudo incluem a Black Female Academic Network e a Sisters in Higher Education Network.
Esses coletivos oferecem congressos, eventos, oportunidades de desenvolvimento e, principalmente, uma comunidade com profissionais que estão inseridas e lidam com as mesmas questões. Nesse sentido, a importância desses ambientes se dá por funcionarem como espaços de compartilhamento de conhecimento e mentoria.
Nesse caso, as autoras defendem que as universidades precisam levar em consideração diversos fatores para incentivar a entrada e a permanência desses profissionais nas instituições. A implementação de políticas genéricas de igualdade, diversidade e inclusão, nesse caso, devem ser reavaliadas por não darem conta de modo efetivo do tamanho dos entraves enfrentados por elas.