Estrategista de negócios, investidora, comunicadora e uma das vozes mais influentes da nova economia criativa, Monique Evelle faz parte de uma geração que redefine o que significa empreender no Brasil. É a primeira mulher negra e a mais jovem investidora do Shark Tank América Latina, já participou do Profissão Repórter, da TV Globo, e agora apresenta o programa “Elas Comandam”, da Rede Bahia, voltado a fortalecer mulheres nos negócios. Sua trajetória combina impacto social, estratégia empresarial e uma presença cada vez mais ativa na construção de um novo imaginário sobre liderança e representatividade.
Aos 31 anos, divide-se entre Salvador, São Paulo e Barcelona, liderando mentorias, investimentos e projetos que unem tecnologia, cultura e propósito. Fundadora da plataforma Inventivos, que conecta educação e inovação, Monique tem como missão preparar profissionais e empreendedores para “criarem carreiras e negócios melhores e sustentáveis”.
A profissional também foi eleita uma das 100 empreendedoras do ano pela Bloomberg Línea, destacando-se por dois anos consecutivos como uma das 500 líderes mais influentes da América Latina. Ela também integra o seleto grupo de líderes mundiais na categoria Negócios e Empreendedorismo, reconhecida pela Most Influential People of African Descent (MIPAD/ONU), e está entre as profissionais mais criativas do Brasil, pela Revista Wired e Women to Watch.
Nascida em Salvador, desde muito nova foi movida por um desejo de transformação. “Comecei a empreender 100% focada em impacto social. E, quando você tem 16 anos, acredita que vai mudar o mundo, e de certa forma muda o seu microcosmo. No meio do caminho, entendi que dá para mudar o mundo e ganhar dinheiro ao mesmo tempo, porque ninguém consegue fazer isso da melhor forma de barriga vazia”, diz. Essa conciliação entre propósito e resultado se tornaria o eixo de toda a sua trajetória como estrategista de negócios.
A plataforma Inventivos foi fundada em 2020, em meio à pandemia, mas a inquietação que a originou é mais antiga: “A pergunta era: há espaço para todo mundo no futuro do trabalho e no futuro do empreendedorismo? Entendemos que sozinhos não há espaço, tem que ser todo mundo olhando para a mesma missão”, afirma. Para ela, o desafio de inovar está tanto na formação técnica quanto no equilíbrio emocional de quem empreende: “Tem uma coisa da ansiedade pela ausência de dinheiro que faz a gente acreditar que o dinheiro é a primeira coisa que tem que ter. Mas dinheiro no tempo errado também quebra uma empresa”, explica.
Comunicação e propósito
Além de investidora e mentora, Monique tem uma trajetória consolidada na comunicação. Foi repórter do Profissão Repórter, na TV Globo, e jurada do reality Self Made Brasil. Em 2023, entrou para a história ao se tornar a primeira mulher negra e a mais jovem “Shark” do Shark Tank América Latina, aos 28 anos. “Só eu existindo ali já mostra que existe um outro jeito de fazer negócio. Meu foco é investir naquilo que gera comportamento. Eu quebro a ideia de que é preciso ter 60 anos e ser bilionário para ser reconhecido como investidor”, diz.
Na 10ª temporada do programa e na versão Shark Tank Brasil: Creators, ela segue ampliando o acesso de novos perfis de empreendedores ao ecossistema de investimento. “Tem pessoas que jamais se inscreveriam no Shark Tank e agora se inscrevem porque eu estou lá. É uma responsabilidade enorme, mas é também um lugar de passagem de bastão”, conta.
Em outubro de 2025, Monique estreou como apresentadora e mentora do programa “Elas Comandam”, na Rede Bahia, dedicado a fortalecer mulheres nos negócios. Diferentemente de suas participações anteriores na TV, ela agora visita os empreendimentos pessoalmente. “Vou até os negócios, vejo a operação de perto. É quase voltar às origens do Profissão Repórter, mas agora com a lente do empreendedorismo. E é simbólico fazer isso, porque Salvador é o berço da inovação do Brasil. O Brasil começou na Bahia, e vai recomeçar também na Bahia”, diz. “Eu posso estar em São Paulo, no Rio ou em Barcelona, mas tudo o que faço é a partir de Salvador”, resume.
No programa, Monique destaca o papel da ancestralidade e da tecnologia social nos negócios locais: “Mesmo que a gente não verbalize, tem muita ancestralidade ali, muita licença para continuar. Não é só sobre vender, é sobre movimentar a economia de um bairro inteiro”, diz sobre o poder de investir em um negócio que irá atender toda uma comunidade.
A atuação de Monique também reflete uma leitura crítica sobre o cenário contemporâneo da economia criativa, que hoje responde por quase 4% do PIB brasileiro, segundo dados da FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). “A criatividade é superestimada, parece que só algumas pessoas são criativas. Mas toda pessoa é, porque somos atravessados todos os dias por algo. O desafio é transformar isso em modelo de negócio, que seja recorrente e escalável. A economia criativa sustenta o país, mas há uma miopia dos fundos de investimento em reconhecer esse potencial”, analisa. Essa visão pauta inclusive a tese de investimento da Inventivos, que passou a olhar não apenas para startups de base tecnológica, mas também para ‘marcas que criam cultura, moldam comportamentos e formam comunidades’”.
Visão de mercado
Com um portfólio diverso, que inclui nomes como Café Quilombo, Dot Energy, Carteiro Amigo Express e Prospera, ela mantém um olhar atento às novas gerações. “A geração Z consegue escutar, se adaptar e mudar muito mais rápido. E entende que visibilidade não paga boleto. Eu demorei três anos para atingir resultados que empreendedores da geração Z conseguiram em um. Eles têm convicção e agilidade para transformar produtos e negócios”, defende.
Ao mesmo tempo, reforça a importância de critérios sólidos antes de investir: “Analiso cinco riscos, de time, de mercado, financeiro, regulatório e operacional. E gosto de empreendedores que mostram, não só falam. Ideia por ideia, todo mundo tem. Mostre para mim”, explica. Fora do trabalho, Monique busca o que chama de “inspiração aleatória”: momentos de pausa, amizades e escrita íntima. “Escrevo crônicas para mim. Posso publicar um dia, posso não publicar nunca. O aleatório me inspira, porque é quando eu pauso e consigo escutar o que o universo quer me dizer”, confessa.
Com uma trajetória marcada por pioneirismo e um olhar apurado para pessoas e ideias, Monique Evelle consolida uma atuação que atravessa fronteiras e campos distintos. “Quando me perguntam o que eu faço, eu digo que moldo futuros possíveis. Porque é isso, é fazer funcionar”, resume.