Todos os dias, entrar em uma empresa e ocupar um dos cargos mais importantes da instituição é uma grande conquista. Começando pelos dedos apontados, cito o preconceito. Já sentiu que estavam te olhando de forma estranha, como se não soubessem o que você estava fazendo ali?
Vivi isso na pele quando iniciei no almoxarifado da empresa onde hoje sou vice-presidente. Todos os homens do setor não sabiam qual função delegar a mim, primeira mulher a trabalhar com eles. Uma situação constrangedora para todos, mas muito mais para quem, além de ser alvo dos olhares machistas, estava cheia de vontade de trabalhar e aprender.
Outro ponto comum é a cobrança constante, a dúvida sobre nossa capacidade de estar em tal função. Toda mulher que assume um alto cargo de liderança já teve que lidar com alguém querendo ensinar algo que obviamente ela sabe. Chamamos isso de mansplaining, e este termo em inglês só descreve uma situação muito comum em ambientes de trabalhos ou em conversas mais densas sobre assuntos como política, por exemplo.
Tenho uma conhecida, profissional competente, que já ouviu o chefe dizer que “se ela não foi capaz de perceber o que estava acontecendo ali, é porque talvez nem estivesse mesmo”. Nem preciso dizer o quão diminuída ela se sentiu, mas infelizmente essa é uma situação que ainda acontece com frequência. Quando não é isso, vem a velha e famosa desigualdade salarial. Novamente, já tivemos alguma evolução, mas as mulheres ainda ganham cerca de 20,5% a menos do que os homens. Bem difícil entender essa situação, principalmente quando ambos exercem a mesma função.
Além disso tudo, ainda existem as questões que surgem internamente, como a autodepreciação e a síndrome de impostor – sentimentos que, em muitos casos, fazem parte do cotidiano de mulheres que vivem essa rotina exaustiva.
Mas a verdade é que tudo isso só acontece se a oportunidade surgir… E oportunidades, acreditem, às vezes são escassas. Muitas coisas mudaram até chegarmos na sociedade atual: direito ao voto, direito de estudar, direito de trabalhar… Mas engana-se quem pensa que isso foi suficiente para que o preconceito em relação às mulheres chegasse ao fim. No Brasil, 71% das funções de liderança são assumidas por homens – apenas 29% dos cargos de chefia são ocupados por mulheres na indústria brasileira, segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria).
“A mulher nasceu para cuidar da casa e criar os filhos” – existe frase mais ultrapassada do que essa? Mas, em pleno 2023, viver em meio a ambientes dominados por homens ainda é um grande desafio. Não à toa. Se a mulher for mãe, a desvalorização é pior ainda. A falta de representatividade é real e, na maioria das vezes, precisamos mostrar diariamente que temos competência para fazer o que fazemos. Não parece óbvio?
Uma empresa gerenciada por mulheres apresenta várias vantagens, entre elas o desenvolvimento da inteligência emocional, melhor adaptação às mudanças e atenção mais frequente para os detalhes. Mulheres geralmente optam por uma liderança mais inclusiva, participativa e que leva em consideração toda a equipe de forma verdadeira.
Que estejamos aptas a criar uma nova geração de homens e de mulheres. De homens capazes de respeitar cada uma delas assim como apoiam um novo colega de emprego – homem. E de mulheres fortes o suficiente para chegarem ao cargo que se prepararam para assumir, independente de onde tal função esteja na hierarquia na empresa.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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