Confesso que o tema da coluna de hoje seria outro, mas precisei mudar de última hora. Isso porque acabei de ler o post de um renomado influenciador de negócios que proferiu palavras que me entristeceram e ressoaram negativamente entre muitos de nós. No post em questão, ele sugere que as mulheres não deveriam aspirar a posições de CEO, devido a uma suposta incompatibilidade do cargo com valores familiares.
Ele ainda afirma que liderar uma grande companhia poderia levar a um processo de “masculinização” da mulher, colocando a família em segundo plano. Essa visão, além de retrógrada e ultrapassada, desconsidera a enorme capacidade feminina de equilibrar múltiplos papéis e ignora as evidências de que podemos, sim, liderar com eficácia e sensibilidade.
Para citar alguns exemplos notáveis de mulheres que alcançaram o topo em grandes corporações, temos Ginni Rometty, ex-CEO da IBM; Mary Barra, CEO da General Motors; e Ana Botín, presidente do Banco Santander. No Brasil, também não faltam exemplos. Temos líderes inspiradoras como Luiza Trajano, à frente do Magazine Luiza, e Cristina Palmaka, presidente da SAP América Latina e Caribe.
Assim como eu, essas líderes trabalharam e trabalham duro, provando que é possível gerir grandes empresas sem deixar para trás sonhos e realizações pessoais. E, enquanto fazem isso, ainda promovem a igualdade e o desenvolvimento sustentável.
A jornada das mulheres em direção à posições de liderança é marcada por avanços significativos, mas não podemos ignorar que ainda existem desafios persistentes. No cenário global, o Brasil já ocupa a 11ª posição no ranking de países com maior presença feminina em cargos de liderança, segundo a consultoria Grant Thornton. Somos 38% dos líderes no país, de acordo com dados da FIA Business School.
No entanto, a luta pela igualdade no ambiente corporativo ainda é árdua. Um relatório do governo federal, divulgado há poucos dias, aponta uma disparidade salarial de 20,7% a menos para mulheres em relação aos homens, com discrepâncias ainda maiores impactando mulheres negras.
Sem falar na grande desigualdade na divisão do trabalho doméstico. Segundo o PNAD de 2023, as mulheres brasileiras dedicam cerca de 21,3 horas semanais a tarefas domésticas, enquanto os homens gastam apenas 11,7 horas. Essa disparidade não apenas sobrecarrega as mulheres, mas também limita seu tempo e energia para o crescimento profissional e para a busca de posições de liderança.
Um livro de que gosto muito e que recomendo é “Liderança Shakti”, de Nilima Bhat e Raj Sisodia. Ele revela o quanto a integração das energias masculinas e femininas pode revitalizar a liderança, criando espaços de trabalho mais colaborativos, empáticos e saudáveis.
Em uma era em que a saúde mental nas empresas é uma preocupação crescente, com o Brasil figurando entre os países mais ansiosos do mundo, acredito que essa abordagem é essencial! Muito dessa ansiedade decorre de ambientes de trabalho tóxicos, fomentados por modelos de liderança que priorizam a competição em detrimento da segurança psicológica.
Mulheres, acreditem em vocês! Vocês podem e devem aspirar a qualquer posição, inclusive a de CEO, sem que isso implique o sacrifício de sua vida familiar ou de seus valores. Homens e líderes, tenham em mente que, ao promover a igualdade e apoiar a ascensão feminina em todos os setores, estamos não só validando o direito das mulheres de escolherem seus caminhos, mas também enriquecendo as práticas empresariais e garantindo um futuro mais justo e próspero para todos.
Infelizmente, sei que esta coluna e toda a visibilidade dada ao post acabam trazendo mais atenção para quem não deveria ter tanto alcance. Mas, em tempos em que as mulheres vêm conquistando mais espaço a cada dia, não podemos nos calar diante do retrocesso e de ideias preconceituosas.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da IstoÉ
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