Quem foi Antonieta de Barros, a primeira mulher negra eleita deputada no Brasil

Educadora, jornalista e pioneira na política, catarinense usou o mandato para defender o acesso à educação, os direitos das mulheres e a emancipação dos mais pobres

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Mural de 34 metros no centro de Florianópolis homenageia Antonieta de Barros, a primeira mulher negra eleita deputada no Brasil. Educadora e pioneira, ela faria 123 anos neste 11 de julho Foto: Divulgação

Na próxima sexta-feira, 11 de julho, Antonieta de Barros completaria 123 anos. A data marca o nascimento de uma das figuras mais importantes da história brasileira — e a primeira mulher negra a ser eleita para um cargo parlamentar no país. Professora, jornalista e política, Antonieta fez de sua trajetória uma ferramenta de transformação coletiva, com foco na educação, na valorização das mulheres e na luta contra as desigualdades sociais.

Filha de uma ex-escravizada e lavadeira, Antonieta nasceu em 1901, em Florianópolis (SC), em um Brasil recém-saído da escravidão e ainda marcado por altos índices de analfabetismo, especialmente entre a população negra. Em um contexto de poucas oportunidades para mulheres, e quase nenhuma para mulheres negras, ela não apenas aprendeu a ler, mas também se tornou professora. Aos 17 anos, ingressou na Escola Normal Catarinense e, em 1922, fundou o Curso Antonieta de Barros, voltado à alfabetização de pessoas em situação de vulnerabilidade — projeto que dirigiu até sua morte, décadas depois.

Sua atuação extrapolou a sala de aula. Jornalista ativa, escrevia colunas e artigos em jornais da época, muitas vezes usando pseudônimos masculinos para conseguir espaço na imprensa. Em 1934, apenas três anos após as mulheres conquistarem o direito ao voto, Antonieta foi eleita deputada estadual em Santa Catarina — feito inédito para uma mulher negra no Brasil. Reeleita em 1947, seguiu sua atuação parlamentar comprometida com a universalização da educação pública, a defesa dos direitos das mulheres e a promoção da justiça social.

Antonieta compreendia a educação não apenas como ferramenta de instrução, mas como um instrumento de cidadania e libertação. Seu mandato também buscou abrir caminhos para que outras mulheres pudessem ocupar posições de poder — algo que permanece atual diante da sub-representação feminina e negra nos espaços políticos do país.

Hoje, mais de um século após seu nascimento, seu nome está inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília — reconhecimento oficial de sua importância para a história nacional. Mas seu legado também pulsa nas ruas.

Homenagem artística

Em Florianópolis, no centro da cidade onde nasceu, o rosto de Antonieta agora ocupa os 34 metros de altura da empena do Edifício Atlas. A homenagem foi realizada pela artista visual Gugie Cavalcanti, que utilizou 300 litros de tinta para eternizar o rosto da educadora em um mural que já se tornou ponto de referência e reflexão. “A história dela nos traz essa inspiração de nos sentirmos fortes para seguir nosso caminho, para fazer as coisas que desejamos, para que nós, mulheres, ocupemos mais espaços. Então, ela mesma me aconselhou, de certa forma, a fazer essa pintura ali. Acho isso muito especial. Mudou totalmente a minha vida também”, diz Gugie.

A proposta da artista reafirma o poder da arte urbana como ferramenta de valorização da memória coletiva e de educação visual — especialmente em tempos em que o legado de figuras negras na história brasileira ainda é pouco visibilizado nos currículos escolares e nos espaços públicos. Gugie, que cresceu em Florianópolis e hoje vive no Rio de Janeiro, iniciou sua trajetória na cultura hip hop aos 13 anos, através da dança de rua. Graduada em Artes Visuais pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), a artista já tem mais de 13 murais espalhados por diferentes estados do país, sempre com uma abordagem voltada à representatividade e à justiça social.