O recuo do rio Madeira está em ritmo avançado. Em uma semana, a marcação desceu um metro. É a primeira vez desde a seca histórica, em 2010, que ele fica abaixo dos dois metros. Antes o estado era de atenção, agora é de alerta. O “Madeirão” chegou à marca dos 2,17 metros há uma semana, como revelou o monitoramento do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). De acordo com o órgão, a previsão para os próximos 15 dias é que o nível do rio continue baixando devido ao período de estiagem.

A seca atinge 60 dos 62 municípios do estado do Amazonas e prejudica o abastecimento em comunidades mais isoladas. O Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), ligado ao governo federal, prevê que a situação de rios estratégicos é crítica. A seca na Amazônia pode bater recorde e se estender até o mês de janeiro.

O governo do Amazonas já estuda a possibilidade de remover comunidades inteiras, que vivem da agricultura familiar nas áreas de várzea dos principais rios do estado, por conta das mudanças no clima da região. A seca extrema desse verão amazônico, que começa em agosto e termina agora em outubro, mostra que a produção agrícola familiar pode se tornar inviável em áreas tradicionalmente férteis nas margens dos rios.
O estado do Amazonas ainda não tem um estudo detalhado do impacto da seca na produção agrícola. Mas a produção tanto da agricultura familiar quanto da safra de grãos já apresenta sinais de colapso. O governo do Estado afirma que a gravidade do problema está concentrada no escoamento da produção dos pequenos agricultores que vivem nas margens dos grandes rios e seus afluentes.

Em muitas regiões o nível da água baixou tanto que nem mesmo canoas de pequeno porte estão acessando comunidades de produtores rurais. No mercado do Porto de Manaus muitos produtos, tradicionalmente vindos da região, estão sendo trazidos de outros estados por conta de um aumento de até 200% no preço do frete.

Na capital amazonense a expectativa é de que o Rio Negro continue baixando nas próximas semanas e atinja, também, durante este mês de outubro a mínima histórica. Essa seca não é um fenômeno isolado, é parte de um novo cenário climático que se agrava devido ao aquecimento global.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.