O estudo realizado por cinco agências da ONU mostra que cerca de 8,4 milhões de brasileiros passaram fome no Brasil entre 2021 e 2023. Os dados também indicam que, no mesmo período, o número de brasileiros em insegurança alimentar foi de 39,7 milhões, sendo que 14,3 milhões estavam em estado severo.

O relatório anual da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e demais parceiros, “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo”, inaugura o principal projeto do G20 que é o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza que caracteriza a fome como desnutrição crônica.

Segundo os dados do relatório referente ao período 2020-22, o Brasil registrou avanços. O número de brasileiros em estado de desnutrição — população com dieta abaixo dos níveis mínimos de consumo de energia — era de 10,1 milhões. Já o total em insegurança alimentar era de 70,3 milhões.

A insegurança alimentar no Brasil, no entanto, ainda está acima do período entre 2014 e 2016. O total da população nessa situação era de 27,2 milhões.

O estudo da FAO, numa perspectiva global, revela que a fome ocorreu praticamente no mesmo nível durante os últimos três anos, após a COVID 19. Entre 713 e 757 milhões de pessoas podem ter passado fome em 2023, o que equivale a 1 entre 11 pessoas no mundo.

As estimativas para a insegurança alimentar (moderada ou severa) são de 28,9% da população mundial, ainda segundo o estudo.

A FAO também traz em seu estudo um recorte por país apresentando o percentual da população afetada pela fome entre 2021 e 2023.

No caso do Brasil, o índice de desnutrição foi de 3,9%. Para a insegurança alimentar, a proporção é de 18,4%. Vale salientar que além da FAO participam deste relatório o Fundo de Desenvolvimento Agrícola (FDA), o Programa Mundial de Alimentos (PMA), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Unicef.

O estudo traz um cenário de falta de avanços a poucos anos da meta da ONU de erradicar a fome até 2030. Destaca ainda que em todas as regiões do globo o principal indicador da FAO para monitorar a fome ainda está acima dos níveis pré-pandemia.

Este relatório aponta que “há uma tendência clara de aumento do PoU [sigla em inglês para prevalência de subnutrição] na África, enquanto há progresso sendo feito na América Latina e Caribe e estagnação na Ásia”, “A falta de avanços na segurança alimentar e o progresso desigual no acesso econômico a dietas saudáveis ​​lançam uma sombra sobre a possibilidade de se alcançar o objetivo da fome zero no mundo.”

A desigualdade no acesso é vista na forma como a fome se espalha pelo mundo. Os países considerados de terceiro mundo que apresentam renda baixa reúnem uma maior proporção da sua população que não tem condições de arcar com os custos de uma dieta saudável (71,5%). No caso das nações de renda alta, o percentual é de 6,3%.

A edição atual do relatório também teve como foco apontar mecanismos de financiamento de ações contra a fome. Os estudos evidenciam que a segurança alimentar e nutrição traz menos de um quarto do fluxo total de assistência para o desenvolvimento. Esses recursos somam cerca de US$ 76 bilhões (R$ 424 bilhões) por ano, entre 2017 e 2021, dos quais apenas 34% foram destinados para o enfrentamento das maiores causas da insegurança alimentar e da desnutrição. O Brasil precisa acionar todos os alertas vermelhos e buscar soluções eficazes e urgentes para conseguir reverter esta triste e desesperadora realidade.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ