Confúcio tem uma frase maravilhosa que diz o seguinte: “Todos temos duas vidas. E a segunda começa quando percebemos que só temos uma.”

De fato, estou passando por uma crise: a dúvida cruel de como começar essa coluna. Acompanhada dessa nossa velha amiga estão todos os gatilhos da mundialmente famosa Síndrome de Impostora, pois afinal… Que mulher nesse mundo não foi condicionada a duvidar de si mesma como ferramenta de manutenção do status quo do patriarcado? Não podemos ser melhores do que os Alfas!, ressoa pelas entrelinhas históricas da lógica capitalista.

Mas como todo o clichê vem acompanhado de um novo clichê, a resposta-salvação desse impasse, soprada aqui, internamente, pela voz que habita a minha cabeça (tem um livro maravilhoso sobre isso e podemos falar disso em outra coluna) é a famosa dica da primeira série do fundamental…. Vamos começar pelo começo?

Pois bem, muito prazer, me chamo Carolina e sou atriz, ou melhor, sou… atriz e mãe, produtora, idealizadora, locutora, pretendente a podcaster, professora da minha filha –  depois que a alfabetizei na pandemia, achei que merecia um pouco desse título; além disso lavo, passo, cozinho, pago aluguel e muitos boletos, como a maioria de vocês. 

Tenho um pouco mais de 40 anos e passei boa parte deles me preocupando em agradar os outros. A questão é que depois que fiz esses maravilhosos 40 anos uma chave mudou, e não devo desconsiderar o fato de tê-los feito no meio de uma pandemia, o que torna ainda mais surpreendente o desenrolar dos acontecimentos. Me dei conta de que a maior parte daquilo que eu achava que era superimportante de fato não era, e comecei a filtrar, peneirar, decantar, até virar praticamente uma Marie Kondo das minhas prioridades. 

Sim… aos 40 anos a mulher começa a se dar conta de que está começando a envelhecer. Sim, eu sei, somos ainda muito novas e temos uma vida pela frente. Essa palavra dita como maldita mais me parece, na verdade, uma das coisas mais lindas que podem acontecer. 

A metanóia junguiana, o mergulho nas profundezas da alma e como se conclui da frase de Confúcio, o tempo de uma nova vida, já não serve mais para preencher carências ou satisfazer um pertencimento. 

O corpo muda, a pele, o cabelo, tudo muda…  mas principalmente o que muda é a mente e a vontade de não se perder naquilo que não cabe e não faz mais sentido. Essa maturidade emocional é mil vezes mais interessante do que o que a sociedade rotula como atraente. 

Que crueldade é, para qualquer pessoa, não ter o direito de reconhecer que está começando a envelhecer. E que bonito é saber que estamos começando a envelhecer porque isso talvez seja a melhor coisa que pode acontecer na sua vida – para Recomeçar. 

Que os números não nos limitem, não mais. 

 

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.