Tratar o climatério como doença que precisa de medicamentos. Essa tem sido uma abordagem cada vez mais propagada nos dias atuais. Mas uma série de artigos publicada na prestigiosa revista científica The Lancet, neste mês da mulher, coloca essa visão em questão. Os pesquisadores que assinam o trabalho afirmam que boa parte das mulheres passa por essa fase sem maiores queixas e que, muitas vezes, a informação pode ser a melhor conduta para que tenham qualidade de vida depois da menopausa.

”Ao invés de nos concentrarmos no climatério como uma deficiência endócrina, propomos um modelo de empoderamento, no qual a paciente é especialista na sua própria condição e o profissional de saúde a apoia para se tornar um parceiro igual e ativo na sua condição, gerenciando seus próprios cuidados”.

Os artigos defendem que essa seria uma forma de beneficiar a população menos favorecida, que não tem acesso às terapias de reposição hormonal. Por aqui, a Sociedade Brasileira de Climatério divulgou uma pesquisa mostrando que apenas 22% das mulheres entre 45 e 65 anos receberam recomendações para o tratamento de reposição hormonal.

Buscar o conhecimento sobre o climatério, seus sintomas e possíveis formas de melhorá-los é, sem dúvida, fundamental. Saber que o que sentimos tem respaldo na ciência nos dá base para que procuremos ajuda, fazendo as perguntas certas e discutindo com os especialistas qual a melhor conduta para o nosso caso.

Em um país tão diverso e com acesso limitado a serviços de saúde por grande parte da população, é realmente difícil estimar quantas mulheres seriam candidatas ao tratamento medicamentoso e quantas de fato têm a possibilidade de adquirir e seguir com as medicações. Mais do que isso, embora haja muitos avanços e as mulheres busquem cada vez mais o conhecimento para lidar com as dificuldades da menopausa, infelizmente ainda existe um enorme contingente de profissionais de saúde e de mulheres que não recebem as informações necessárias para se empoderar da maneira que os autores do estudo propõem.

A terapia hormonal (TH) começou a ser mais amplamente aplicada a partir da década de 1960 como uma maneira de diminuir os principais sintomas da menopausa, como ondas de calor, insônia, dores pelo corpo, secura vaginal e até osteoporose. Hoje se sabe que, de fato, a TH pode auxiliar muito nesses sintomas. Porém, em 2001, em um estudo publicado por um grupo americano conhecido como WHI (Women’s Health Initiative), observou-se um aumento de casos de câncer de mama e de doenças cardiovasculares entre as mulheres que recebiam hormônios. Foi principalmente a partir desse momento que ginecologistas e profissionais da saúde começaram a avaliar a real necessidade de prescrever a hormonioterapia, assim como buscar alternativas não hormonais para o tratamento de sintomas tão incômodos.

Essa é a busca incessante de muitos pesquisadores: encontrar alternativas seguras e efetivas para ganho de qualidade de vida. Quando bem indicada, a terapia de reposição hormonal se prova benéfica. No grupo de idade correto, ou seja, aquelas que se encontram na janela de oportunidade (cerca de sete anos após a última menstruação), o risco de infarto e derrame cerebral se mostra inclusive menor do que nas mulheres que não realizaram a TH. Para quem teve câncer de mama ou tem risco aumentado da doença, no entanto, o hormônio é contraindicado.

De qualquer forma, é preciso que se diga que a administração dos hormônios é bastante delicada. Há uma infinidade de combinações possíveis – pode-se usar não apenas o estrógeno, mas também a testosterona e a progesterona. A indicação de cada um, e das doses respectivas, dependem dos sintomas, do momento em que a mulher se encontra e da forma como cada uma reage, o que varia muito. Os efeitos colaterais são diversos, e vão de depressão ao aumento excessivo das características masculinas. Por isso, o acompanhamento precisa ser constante e atencioso, tanto por parte do médico quanto da paciente.

É sempre importante ressaltar a importância de se individualizar e avaliar cada uma de acordo com suas possibilidades, antecedentes, sintomas e desejos. Só assim poderemos oferecer o melhor, que deveria ser a meta de todos os profissionais de saúde envolvidos no cuidado da mulher, seja no Brasil, seja no exterior.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.