Silvinha Oliveira une estilo de vida carioca e sustentabilidade em peças autorais

À frente da Retalhos Cariocas, ela faz da moda um caminho para o consumo consciente e o empoderamento feminino

Jefferson Oliveira
À frente da marca Retalhos Cariocas, Silvinha transforma resíduos têxteis em moda autoral Foto: Jefferson Oliveira

Silvinha Oliveira faz moda autoral, criativa e sustentável. À frente da Retalhos Cariocas, marca criada com o DNA do Rio de Janeiro, ela tem como propósito expandir a sustentabilidade para além das fronteiras brasileiras.

Filha de costureira, o interesse pelo ofício começou cedo, enquanto observava a mãe transformar roupas em sustento. “Ela é o arrimo de casa, por muitos anos foi quem sustentou a nossa família”, conta.

A primeira experiência em um ateliê aconteceu em São Paulo, no espaço de noivas do renomado estilista Clodovil. Foi lá que a mãe de Silvinha começou a trabalhar com alta costura, mesmo sem experiência. “Todos os dias, durante o horário de almoço, ela estudava [técnicas] com outras profissionais”, diz.

Entre as recordações dessa época, um vestido de daminha criado pelo próprio estilista. “Ele me deu de presente, a caixa era linda e cada detalhe tinha sua beleza”, lembra.

Pouco tempo depois, a família trocou a Grande São Paulo pelo Rio de Janeiro, onde Silvinha deu os seus primeiros passos como estudante de moda. “Aos seis anos, eu já brincava de desenhar manequins, mas só consegui realmente estudar a arte quando fiquei adulta.”

Durante a faculdade, Silvinha precisou interromper o curso algumas vezes por questões financeiras. No início, ela não tinha como arcar com a mensalidade, depois a saúde debilitada da mãe exigiu tempo e recursos da família. “Tranquei o curso para ajudar nos cuidados com ela”, relembra.

Mas Silvinha não abriu mão do sonho de se formar, quando conseguiu retomar as aulas, conciliou o trabalho pela manhã com a faculdade à tarde, até encontrar uma vaga de estágio na área.
Mas a primeira experiência profissional não foi como ela imaginava. “Presenciei um momento ruim dentro do ateliê, uma situação que, se fosse com a minha mãe, eu não aceitaria”, relembra.

Decidida a trilhar o próprio caminho, ao lado da mãe e de uma amiga da faculdade, Silvinha abriu um negócio e começou a confeccionar bolsas, unindo técnica, criatividade e propósito. “Todas feitas sob medida, inspiradas em pontos turísticos do Rio de Janeiro.”

Juntas, as costureiras foram à praia, estenderam uma lona e exibiram as peças. Mas logo perceberam que não tinham licença nem autorização para comercializar na rua. “Vendemos algumas bolsas até que um ambulante nos aconselhou a tomar cuidado com a fiscalização”, afirma.

Sem estruturar para continuar, Silvinha parou, mas a vontade de empreender permaneceu. Nesse período, ela participou de um curso da prefeitura voltado a empreendedores comunitários, onde desenvolveu um projeto de capacitação em artesanato e costura para 20 mulheres.

Para colocar a atividade em prática, Silvinha foi atrás de doações de retalhos de tecidos e voltou a produzir bolsas e a participar de feiras. Entre um evento e outro, surgiu a necessidade de criar uma marca própria. “Os clientes me pediam um nome e eu percebi que precisava de uma identidade para o meu trabalho.”

Retalhos Cariocas

Foi no ateliê montado na casa dos pais que, em 2008, Silvinha abriu a Retalhos Cariocas, sua marca de moda autoral e criativa. No ano seguinte, fechou sociedade com três sócios, ampliou o catálogo de produtos e reforçou o compromisso com a sustentabilidade e com o estilo de vida carioca.

Em dois anos, a marca conquistou o apoio de um investidor-anjo e estruturou uma rede de 40 revendedoras no Rio de Janeiro. “Comecei a receber muitos estrangeiros, eles não só queriam conhecer os produtos, como também passavam um período trabalhando conosco.”

Assim a Retalhos Cariocas foi conquistando visibilidade internacional e sendo reconhecida através de prêmios. Mas uma série de desentendimentos levou Silvinha a encerrar as sociedades. “Foram nove meses tentando recuperar o nome e enfrentando muitos desafios”, conta.

Hoje, 17 anos após a criação da marca, Silvinha vive uma nova fase como empreendedora. Alinhada à mentalidade sustentável, ela desenvolve peças em diferentes formatos, de chinelos a mochilas, produzidas a partir de resíduos têxteis retirados do meio ambiente.

Além do trabalho no ateliê, a costureira realiza oficinas em favelas e bairros periféricos do Rio de Janeiro. Para ela, a Retalhos Cariocas é mais do que uma empresa, “é um caminho de sustentabilidade e empoderamento feminino, como uma ponte para que outras mulheres possam se encontrar”, finaliza.