Nesses últimos dias circulou na minha timeline um vídeo que falava sobre as profissões mais promissoras e com o maior ganho potencial no futuro. Essa lista feita pelo Fórum Econômico Mundial incluía cargos como: Especialista em IA e aprendizado de máquina – que literalmente consiste em ensinar um computador a analisar dados para extrair informações de acordo com o seu negócio – e analista de Business Inteligence – que coleta e analisa os seus dados para identificar padrões e tendências do mercado. Só pelo nome essas profissões fazem com que o meu mísero entendimento de machine learning fique soterrado, parecendo impossível compreender de que forma elas podem começar a ser executadas na prática.
Enquanto isso, impregnada no pensamento, estava a melodia entoada pelo Caetano: “mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias”. Fazendo ressoar de forma instantânea o verbo mais tecnológico já criado: NATUREZA.
Entendo que a natureza seja uma enciclopédia de soluções eficazes e elegantes para desafios que a humanidade tenta resolver. E isso se aproxima muito mais de Deus do que das máquinas. Talvez seja essa organização algorítmica da natureza o que as máquinas gostariam de ser quando crescerem – pensando nelas como futuros seres dotados de consciência.
Compreendi uma parte da complexidade divina da Natureza em 2016, quando fui fazer um retiro com uma pajé Yawanawa no meio da floresta amazônica. Depois de seguir uma dieta e ter contato com as medicinas da floresta, a dita tecnologia “se abrilhantou” na minha frente. Foram vários dias imersa na vida natural da mata.
Difícil descrever e explicar em palavras tal vivência. Estar presente diante da imensidão, aceitar os seus desafios e respeitar a limitação de que não somos protagonistas dessa história é reverenciar o divino e começar a compreender a teia da existência.
E o que dizer da capacidade de regeneração? Enquanto nossos dispositivos eletrônicos inevitavelmente se deterioram, a vida selvagem possui a habilidade notável de se curar. A verdadeira eternidade passa por aqui.
Nesse contexto, a sabedoria me parece estar em reconhecer a importância de nos alinharmos com a tecnologia mais antiga e sábia do planeta. A natureza é a mestra original da inovação, a detentora de segredos que não podem ser decifrados em linhas de código. Ela é a tecnologia definitiva, que nos convida a aprender, reverenciar e coexistir em harmonia.
Essa coluna era para ser sobre Deus mas de alguma forma também não deixou de ser. A deusa Natureza, onde no meu entendimento mora e se concentra primordialmente o poder divino, nos ensina que não somos nada sem a floresta porque também não somos nada perto da imensidão dela. Os avanços tecnológicos ou a mais revolucionária das criações pouco adiantarão se não soubermos coexistir e preservar. Esse mesmo homem que insiste em acumular achando que é seu próprio Deus mal se dá conta de que assim somente encontra o caminho da autodestruição.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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