Nos últimos anos, o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) tem ganhado visibilidade nas redes sociais, especialmente no TikTok e Instagram, com milhões de publicações e vídeos sobre o tema. Porém, essa popularidade trouxe um efeito colateral preocupante: a propagação de fake news e desinformação, que tem levado a diagnósticos equivocados e a uma romantização perigosa sobre o transtorno.

A internet e as redes sociais, ao mesmo tempo que democratizaram o acesso à informação, também abriram espaço para a proliferação de conteúdos sem base científica. Um estudo publicado no The Canadian Journal of Psychiatry revelou que, entre os cem vídeos mais assistidos sobre TDAH no TikTok, 52% continham informações falsas. Esses vídeos foram produzidos majoritariamente por pessoas sem qualquer formação na área da saúde, o que intensifica o problema, já que apenas 21% do conteúdo analisado se baseava em evidências científicas. A falta de rigor nas informações e o volume de dados disponíveis criam um ambiente perigoso para quem busca entender mais sobre o tema.

De acordo com o Google Trends, as buscas relacionadas ao TDAH dobraram no Brasil, nos últimos dois anos, um aumento que reflete o interesse crescente da população pelo assunto. Porém, com o aumento das buscas, cresce também a chance de desinformação. Plataformas como TikTok e Instagram estão repletas de dicas para autodiagnóstico e “soluções rápidas”, o que gera um ambiente fértil para diagnósticos incorretos.

Esse cenário levanta um alerta para a responsabilidade no consumo e compartilhamento de informações sobre o TDAH. Embora seja positivo que o tema esteja em evidência, e que mais pessoas estejam buscando entender o transtorno, é crucial que essas informações sejam procuradas em fontes confiáveis e em profissionais qualificados.

Romantização e banalização do TDAH

O romantismo em torno do TDAH, especialmente nas redes sociais, também é um ponto de preocupação. Muitas vezes, o transtorno é tratado como um “superpoder” ou como algo que confere vantagens sobre outras pessoas, o que minimiza os desafios reais enfrentados por quem vive com ele. Embora seja importante desmistificar o TDAH e reduzir o estigma, essa visão distorcida pode desinformar e atrapalhar quem realmente precisa de tratamento.

Além disso, muitos dos sintomas do TDAH, como desatenção, dificuldade de concentração e impulsividade, podem ser vistos em pessoas sem o transtorno, o que torna ainda mais importante o diagnóstico feito por profissionais de saúde capacitados. A Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) destaca que o diagnóstico de TDAH deve ser feito por meio de uma avaliação médica detalhada por psiquiatras ou neurologistas. A oferta de testes on-line ou vídeos que sugerem autodiagnóstico são perigosos e reforçam a importância de buscar apoio especializado.

O papel das plataformas digitais e a luta contra a desinformação

Com mais de 1,4 milhão de publicações usando a hashtag #TDAH no Instagram, a disseminação de informações sobre o transtorno é vasta, mas nem sempre confiável. As redes sociais, que poderiam ser aliadas na conscientização, acabam se tornando um campo fértil para desinformação, agravando um problema que já afeta milhões de pessoas no Brasil e no mundo.

Portanto, é preciso reforçar que, ao buscar conhecimento sobre o TDAH, as pessoas procurem fontes confiáveis e consultem profissionais de saúde sempre que necessário. Sites como TDAH levado a sério e o da ABDA são exemplos de fontes confiáveis e sérias sobre o assunto!

E lutar contra as fake news constantemente, o que exige um esforço conjunto, tanto de especialistas quanto de usuários das plataformas digitais.

O impacto da internet nos sintomas e na percepção do TDAH

Há também o debate sobre o impacto das redes sociais nos próprios sintomas do TDAH. O consumo de conteúdos rápidos e altamente estimulantes, típicos de plataformas como o TikTok, pode intensificar sintomas de falta de concentração e impulsividade, criando um círculo vicioso que confunde a percepção sobre o transtorno. Pessoas sem TDAH podem começar a manifestar comportamentos semelhantes, devido ao uso excessivo das redes, o que alimenta ainda mais a desinformação e os diagnósticos incorretos.

Como uma executiva de uma empresa da área da saúde e entusiasta da ciência, do conhecimento, acredito profundamente que a informação de qualidade é essencial para tomadas de decisão adequadas, especialmente quando se trata da nossa saúde mental.

O TDAH é uma condição complexa e real, que impacta profundamente a vida de milhões de pessoas. É fundamental que busquemos informações precisas e de fontes confiáveis para compreendermos melhor o transtorno e oferecermos apoio adequado a quem precisa.

A luta contra a desinformação deve ser um compromisso contínuo de todos nós, garantindo que temas de saúde mental, como o TDAH, sejam tratados com a seriedade e o respeito que merecem. Afinal, conhecimento é poder – e, no caso do TDAH, é também uma ferramenta de empoderamento e cuidado com a saúde mental.

 

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da IstoÉ