A trajetória de Valéria Almeida, jornalista e apresentadora da TV Globo, tem a marca de uma comunicação orientada pelo propósito: dar visibilidade a pessoas, culturas e experiências que muitas vezes ficam fora do enquadramento tradicional da mídia. À frente do Paulistar, programa que percorre mais de 30 cidades da região metropolitana de São Paulo, ela combina repertório profissional robusto, de reportagens investigativas no Profissão Repórter a anos de cobertura em saúde no Bem-Estar, com uma visão de mundo moldada pela infância na periferia de Santos e pelas perdas e reconstruções que marcaram sua vida.
“Eu cresci em um bairro que só aparecia na página policial. E eu conhecia muita gente incrível que nunca era vista”, conta em entrevista ao IstoÉ Mulher + Fructus Entrevista. É desse ponto que a profissional construiu o método que guia seu trabalho: escuta atenta, respeito e compromisso com impacto social.
Filha de um trabalhador do porto e de uma funcionária dos Correios, Valéria perdeu a mãe aos 10 anos e foi criada pelos avós nordestinos, que orientaram sua formação ética e intelectual. “Minha avó dizia que, se eu quisesse ser uma mulher livre, precisava estudar, acontecesse o que acontecesse”, relembra. A ideia de liberdade por meio do conhecimento a levou ao jornalismo como forma de reverter o estigma sobre o território onde cresceu e ampliar narrativas sobre a vida nas periferias. As referências de Glória Maria e Fátima Bernardes reforçaram sua certeza de que ocupar outros espaços era possível, mesmo quando portas se fechavam por preconceito. “Eu ouvi que meu cabelo não passava credibilidade. Mas, ainda que eu alisasse, eu continuaria sendo uma mulher negra”, afirma.
Depois de experiências em assessoria de imprensa e revista, Valéria recebeu o convite de Caco Barcellos para integrar o Profissão Repórter. O período moldou sua identidade como jornalista e ampliou sua dimensão humana frente aos temas que cobriu, da seca à realidade de lixões, do HIV em Moçambique às desigualdades urbanas brasileiras. Sua passagem para o Bem-Estar trouxe outro tipo de responsabilidade: traduzir informação médica e orientar o público sobre saúde.
No Paulistar, Valéria conduz narrativas de pertencimento, deslocamento e diversidade cultural presentes nas cidades da Grande São Paulo. “Sou apresentada às culturas de cada região por quem vive nelas. São histórias que explicam o que faz essa região ser tão plural”, afirma. A proposta, explica, não é enaltecer um bairro sobre o outro, mas revelar o mosaico social que compõe a metrópole e estimular conexões possíveis entre os diferentes territórios. O impacto é imediato: moradores se reconhecem, ressignificam lugares e buscam experiências mostradas no programa.
Paralelamente, Valéria circula por palcos, eventos corporativos e encontros sobre comunicação, diversidade e direitos humanos. “Cada público que eu encontro é uma nova possibilidade de plantar uma semente. Às vezes eu falo com duas mil pessoas de RH; são duas mil pessoas que vão impactar outras vidas”, conta. A reflexão sobre propósito conduz sua visão de futuro: escrever um livro, ampliar o alcance do Paulistar para o Brasil inteiro e voltar a percorrer o país registrando expressões culturais e modos de vida. Para outras mulheres, deixa uma mensagem direta: “Acredite no seu sonho. Por maior que ele seja, ele é do seu tamanho”, afirma. Confira o papo na íntegra: