O setor de alimentação fora do lar vive um bom momento no Brasil. De acordo com levantamento da Mtrix Market Insights, a receita do food service cresceu 12,4% no primeiro trimestre de 2025, além de indicar um incremento de 10,1% no preço médio e uma elevação de 2,1% no volume de vendas. O segmento é puxado por mudanças no comportamento do consumidor, como a busca por conveniência, disposição para pagar por experiências premium e adoção de tecnologias acessíveis, como sistemas de gestão e canais digitais.
O momento é favorável para transformar habilidades culinárias em negócio. Com a demanda crescente por praticidade e experiências personalizadas, há espaço tanto para empreendimentos formais, como restaurantes e confeitarias, quanto para iniciativas menores, como marmitas artesanais, serviços de personal chef ou venda de doces por encomenda. A combinação entre estrutura leve, investimento enxuto e uso estratégico das redes sociais tem permitido que novos negócios surjam mesmo fora dos grandes centros urbanos.
É nesse cenário que a chef e empreendedora Bárbara Frazão, conhecida como Babi, enxerga uma janela de oportunidade para quem deseja atuar na gastronomia. Vencedora do MasterChef Profissionais em 2023 e eleita “Chef Revelação do Ano” pela Prazeres da Mesa em 2024, ela comanda o restaurante Afeto e a linha de pudins Caramelou, em Brasília. Com trajetória marcada por passagens por casas renomadas como D.O.M, Maní e Pujol, e hoje também professora universitária, a chef compartilha dicas práticas para quem quer começar um negócio com baixo investimento:
Pesquise seu mercado local – “Entender as necessidades dos consumidores e tendências emergentes oferece vantagens competitivas cruciais para qualquer negócio de alimentação. Para tanto, utilize ferramentas e sistemas, observe concorrentes nas redes sociais e converse diretamente com potenciais clientes. Se tiver uma rede social movimentada, realize enquetes pelo Instagram e WhatsApp para entender preferências locais”, aconselha.
Comece de casa e identifique seu nicho – “Negócios gastronômicos podem começar na própria cozinha de casa, oferecendo menor risco e maior flexibilidade. E trabalhar de casa permite testar receitas, ajustar processos e construir uma base de clientes fiel antes de expandir para um espaço comercial, com um custo menor e possibilidade de validação ou melhorias do produto”, orienta Bárbara. Ela também sugere explorar mercados em crescimento como personal chef, buffets, marmitas gourmet ou fit.
Adote o modelo de produção por demanda – “Comece produzindo apenas após receber pedidos confirmados, evitando estoques iniciais e desperdícios”, aconselha Babi. “Essa estratégia é apropriada para quem tem menos capital e não precisa de um volume inicial alto de produtos em estoque”, recomenda ela.
Gestão de cardápio estratégica com controle de qualidade e padronização – “Se você tiver um restaurante, mantenha um cardápio enxuto e bem estruturado. Menos opções, mas com execução perfeita, é sempre melhor que um menu extenso e mal executado. No Afeto, por exemplo, focamos em pratos que representam nossa identidade e que podemos fazer com excelência”, orienta Bárbara. Segundo ela, é imprescindível manter a qualidade consistente em todos os pratos, independentemente do volume de pedidos. “Crie fichas técnicas detalhadas e treine sua equipe constantemente. O cliente precisa saber que sempre encontrará o mesmo padrão”, enfatiza.
Flexibilidade e sustentabilidade como diferencial – “O mercado gastronômico muda rapidamente. Esteja sempre disposto a adaptar seu negócio, seja criando opções de entrega, ajustando horários de funcionamento ou incluindo novos produtos sazonais. A rigidez pode ser fatal para seu negócio”, alerta Bárbara. Conforme a chef, práticas sustentáveis não são apenas tendência, são necessidade. “Trabalhe com fornecedores locais, reduza desperdícios e comunique isso aos seus clientes. Eles valorizam estabelecimentos que se preocupam com o meio ambiente”, aconselha.
Invista em formação e experiência – “Estudar e se capacitar é primordial. Trabalhar em estabelecimentos reconhecidos antes de empreender me proporcionou formação técnica e visão de mercado essenciais para meus negócios”. Para Babi, quando vai a um restaurante, por exemplo, o brasileiro não vai apenas comer, ele busca uma experiência. “Invista no treinamento da equipe e crie momentos memoráveis. Um atendimento caloroso e personalizado pode transformar um cliente eventual em um fã do seu negócio”, destaca a chef.
Explore modelos cooperativos – Seu restaurante Afeto, em Brasília, funciona em formato de coworking gastronômico, compartilhando espaços comuns com outros estabelecimentos. “Dividir espaço e equipamentos como mesas e cadeiras com outros empreendedores, em um mesmo local, é uma estratégia inteligente para reduzir investimentos iniciais. Além disso, o público que vai hoje ao seu concorrente pode, amanhã, ir ao seu, pois há sempre alguém buscando algo novo”, defende.
Utilize marketing digital acessível – Bárbara recomenda investir em redes sociais e ferramentas gratuitas como Canva para criar conteúdo. “WhatsApp Business é uma ferramenta poderosa e gratuita para relacionamento e vendas com clientes. Invista tempo em SEO, marketing de conteúdo e anúncios em plataformas como Instagram e Google. Considere também parcerias e disponibilize um valor de investimento, mesmo que pouco, para viabilizá-las. Fotos e vídeos são essenciais na gastronomia, pois fazem com que as pessoas desejem o que você produz”, aconselha.
Mantenha controle financeiro rigoroso – “Separe contas pessoais das do negócio, mantenha registros detalhados e reinvista todo lucro inicial”, orienta a chef. Ela sugere usar aplicativos de controle financeiro e planilhas para monitorar gastos e receitas. “Negocie com fornecedores condições especiais de prazo e quantidades mínimas. Explore, também, práticas de economia circular, como reuso e reciclagem, que podem reduzir significativamente os custos operacionais”, orienta Babi.
Crie conexão emocional – Os pratos do seu restaurante Afeto, não por acaso, são inspirados em memórias familiares e releituras da culinária brasileira. “Valorizar receitas tradicionais com toques de sofisticação cria conexão emocional com os clientes e diferencial competitivo”, observa.
Construa relacionamentos sólidos – “Empreender na gastronomia exige paixão, resiliência e conexão genuína com os clientes e, também, eventuais parceiros de negócios”, reflete Bárbara. Por isso, ela recomenda participar de eventos setoriais gratuitos, feiras e seminários para criar conexões valiosas. “Estabeleça parcerias mediante trocas de serviços com outros empreendedores e crie programas de indicação para expandir sua base de clientes organicamente. O networking contínuo é fundamental para o crescimento sustentável”, ressalta ela.