Empreender parecia distante e, muitas vezes, sem sentido para Vivian Chun. Mas essa visão mudou quando ela percebeu o impacto que poderia gerar. Hoje, à frente da MOMA, marca de cosméticos naturais com ativos fitoterápicos da Amazônia, ela aposta em um modelo de produção brasileiro capaz de gerar valor social, competitivo e ambiental ao mesmo tempo.
Farmacêutica de formação e especialista em plantas medicinais, Vivian atuou no mercado corporativo por alguns anos até se encontrar na agricultura. A experiência de lidar com a terra e acompanhar de perto o cultivo agroflorestal, integrando hortaliças, frutas e árvores de uso madeireiro, despertou nela a vontade de trilhar o próprio caminho profissional.
A escolha de deixar o escritório para trabalhar no campo foi fácil no início. Vivian já não se sentia representada pelo que fazia. Mas, com o tempo, as longas horas agachada no plantio trouxeram novos questionamentos: “Sentia vontade de ser mãe e, naquela época, ainda não tinha certeza se iria realizar esse sonho, mas sabia que não poderia seguir aquela rotina quando tivesse o meu bebê”, conta.
Além da carga física intensa, a remuneração estava longe de compensar o tempo dedicado. Para Vivian, ficou claro que o modelo não se sustentaria, e que era hora de encontrar outro formato de trabalho. “Foi ao lado dos agricultores que consegui entender o poder do empreendedorismo, a força do mercado e o impacto de uma cadeia inteira”, detalha.
Vivian já se aventurava na formulação de cosméticos naturais, alguns anos antes, em 2012, como um exercício criativo e pessoal. No entanto, a vivência no campo deu um novo sentido a essa experiência e reforçou o propósito de criar uma marca que fosse além da beleza. “Era, acima de tudo, sobre preservação ambiental, valorização do trabalho autoral e geração de renda a partir da biodiversidade”, explica.
Para alcançar esse objetivo, a farmacêutica considerou a complexidade de criar outras fórmulas seguras e eficazes para a pele, avaliando o uso de matérias-primas extraídas diretamente das florestas brasileiras, o que exigia cuidado e responsabilidade. “As florestas geram renda, uma renda horizontalizada entre famílias e pessoas que atuam em diferentes setores”, afirma.
Em 2016, Vivian tirou a MOMA do papel, embora ainda não fosse uma empresa. Apenas em 2021, ao lado do sócio e companheiro de vida Leonardo Vidal, ela retomou a marca, atualizou a identidade visual e decidiu empreender de fato.
Os insumos passaram a ser extraídos diretamente de comunidades indígenas, ribeirinhas e agricultores familiares, por meio de parcerias com redes como Inatú Amazônia e Origens Brasil.
Entre os produtos da linha estão o desodorante em barra, o creme para mãos e pés e o sabonete íntimo em barra. “Fiz uma especialização em fitoterapia e agora estou cursando um MBA com foco em pesquisa e desenvolvimento de cosmetologia para experimentar novas fórmulas e ideias”, conta.
No sabonete íntimo, pensado especialmente para mulheres, Vivian combinou extrato de barbatimão, planta típica do Cerrado, com óleos essenciais de aroeira, melaleuca, óleo de babaçu e ácido lático. O resultado foi uma fórmula vegana, testada dermatologicamente.
Visão de mercado
Ao se aprofundar no desenvolvimento da marca, Vivian passou a observar o mercado de perto e a compreender melhor as necessidades e desejos dos consumidores. “Quero oferecer um cosmético de beleza limpa, que seja necessário na rotina das pessoas, mas, acima de tudo, fruto de um comércio ético.”
Com as bandeiras da biodiversidade e da geração de renda, ela aposta em produtos que tragam benefícios reais e causem menos impacto ao meio ambiente. Até a escolha das embalagens é pensada para seguir esse propósito, evitando materiais poluentes e priorizando alternativas de fácil decomposição.
Em apenas três anos, Vivian conquistou a confiança de mais três sócios: as investidoras e conselheiras Marília Rollemberg e Isabela Baleeiro e o conselheiro Paulo Porto. E transformou a marca em uma empresa mista, que também atua com serviços de extensão rural e agroflorestal.
Atualmente, Vivian também é diretora da Associação dos Negócios de Socioeconomia da Amazônia (Assobio), organização que fortalece pequenas e médias empresas conectadas à bioeconomia amazônica. Para ela, acompanhar a expansão desse impacto em outros contextos é fundamental: “Não apenas para o avanço da MOMA, mas também para minha própria trajetória de crescimento”, conclui.